segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

DESIGUALDADE E INJUSTIÇA: A PALAVRA DE ANGUS DEATON




(Caminhamos a toda a brida para 2018 e o tema da desigualdade continua a marcar o debate da política económica e da economia em geral. A palavra de Angus Deaton merece ser ouvida. Desigualdade e justiça/injustiça é uma bela forma de pegar no problema)

Os trabalhos de Angus Deaton e da sua mulher Anne Case (há dias lembrada neste blogue) versam sobre matérias que podem ser consideradas efeitos da desigualdade desregulada. As chamadas “mortes por desespero” que envolvem o suicídio e outras formas de comportamento de autodestruição (dependência de drogas e de álcool) são suscetíveis de ser interpretadas como a demonstração do mal da desigualdade gratuita. A economia e a sociedade americanas continuam a ser uma matéria inesgotável para o aprofundamento do tema e para a sua discussão sem medos ou incursões no politicamente correto. A economia americana está no coração das duas famílias de argumentos que conduzem às tentativas de explicação do agravamento a ocidente das questões da desigualdade. Está, por um lado, no coração da globalização e da revolução tecnológica e, por outro, é talvez a economia em que seja mais simples estabelecer nexos de causalidade entre o crescimento do rendimento no topo da sociedade e a degradação das classes médias.

Angus Deaton trouxe neste mês de dezembro, através do Project Syndicate (link aqui), um contributo para o estabelecimento de possíveis conexões causais entre a desigualdade e os comportamentos sociais com reflexos eleitorais acomodáveis na designação “populismos”. O contributo trabalha de forma muito simples a associação da desigualdade a perceções de justiça e injustiça. O que é importante, pois a desigualdade pode ter raízes compreensíveis e até assumidas pela sociedade em geral. Nas economias de mercado, o fenómeno que agrupamos no termo inovação pode gerar situações com reflexos positivos para o conjunto de uma dada economia embora produza inicial e diretamente consequências dificilmente interpretáveis como igualitárias. Mas quando, por exemplo, as políticas económicas são orientadas para o enriquecimento do topo social e degradam por essa via a situação das classes médias ou das classes mais desfavorecidas, dificilmente desigualdade e injustiça percebida não andarão juntas.  

Parece-me que Deaton nos traz uma via promissora para entendermos o modo como a desigualdade no futuro próximo interpelará ou não a intervenção política. E não adianta trazer para a discussão a desculpa esfarrapada de quem fala na desigualdade promove a mediocridade global. O que a proposta de Deaton tem de convincente é que a combinação desigualdade-injustiça deita por terra todos esses argumentos de falsa moralidade que uma certa direita que se julga proprietária dos valores do capitalismo triunfante tende a esgrimir. Há e haverá ricos em todas as sociedades. O que não parece desculpável à luz das benesses do crescimento é que o topo social se aproprie ardilosa e por captura do Estado de ganhos não explicáveis pela sua eficiência ou inovação radical ou incremental. A desigualdade injusta ou a injustiça da desigualdade é um bom tema para trazer para 2018 o tema da desigualdade como algo de central à ação política.

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