(Caminhamos a
toda a brida para 2018 e o tema da desigualdade continua a marcar o debate da
política económica e da economia em geral. A palavra de Angus Deaton merece ser
ouvida. Desigualdade e justiça/injustiça
é uma bela forma de pegar no problema)
Os trabalhos de Angus
Deaton e da sua mulher Anne Case (há dias lembrada neste blogue) versam sobre matérias
que podem ser consideradas efeitos da desigualdade desregulada. As chamadas “mortes por desespero” que envolvem o
suicídio e outras formas de comportamento de autodestruição (dependência de
drogas e de álcool) são suscetíveis de ser interpretadas como a demonstração do
mal da desigualdade gratuita. A economia e a sociedade americanas continuam a
ser uma matéria inesgotável para o aprofundamento do tema e para a sua discussão
sem medos ou incursões no politicamente correto. A economia americana está no
coração das duas famílias de argumentos que conduzem às tentativas de explicação
do agravamento a ocidente das questões da desigualdade. Está, por um lado, no
coração da globalização e da revolução tecnológica e, por outro, é talvez a
economia em que seja mais simples estabelecer nexos de causalidade entre o
crescimento do rendimento no topo da sociedade e a degradação das classes médias.
Angus Deaton trouxe
neste mês de dezembro, através do Project Syndicate (link aqui), um contributo para o estabelecimento
de possíveis conexões causais entre a desigualdade e os comportamentos sociais
com reflexos eleitorais acomodáveis na designação “populismos”. O contributo
trabalha de forma muito simples a associação da desigualdade a perceções de justiça
e injustiça. O que é importante, pois a desigualdade pode ter raízes compreensíveis
e até assumidas pela sociedade em geral. Nas economias de mercado, o fenómeno
que agrupamos no termo inovação pode gerar situações com reflexos positivos
para o conjunto de uma dada economia embora produza inicial e diretamente consequências
dificilmente interpretáveis como igualitárias. Mas quando, por exemplo, as políticas
económicas são orientadas para o enriquecimento do topo social e degradam por
essa via a situação das classes médias ou das classes mais desfavorecidas, dificilmente
desigualdade e injustiça percebida não andarão juntas.
Parece-me que Deaton nos
traz uma via promissora para entendermos o modo como a desigualdade no futuro
próximo interpelará ou não a intervenção política. E não adianta trazer para a
discussão a desculpa esfarrapada de quem fala na desigualdade promove a mediocridade
global. O que a proposta de Deaton tem de convincente é que a combinação
desigualdade-injustiça deita por terra todos esses argumentos de falsa
moralidade que uma certa direita que se julga proprietária dos valores do
capitalismo triunfante tende a esgrimir. Há e haverá ricos em todas as sociedades.
O que não parece desculpável à luz das benesses do crescimento é que o topo
social se aproprie ardilosa e por captura do Estado de ganhos não explicáveis
pela sua eficiência ou inovação radical ou incremental. A desigualdade injusta
ou a injustiça da desigualdade é um bom tema para trazer para 2018 o tema da
desigualdade como algo de central à ação política.
Sem comentários:
Enviar um comentário