terça-feira, 12 de dezembro de 2017

TÃO RARAS ASSIM?




(A crueldade das imagens que as televisões vão passando sobre a proximidade da Diretora da Raríssimas a diferentes personalidades do poder político ao longo do tempo incomodam até doer. Não estando em causa a qualidade e pertinência dos serviços prestados pela instituição a um grupo social tão vulnerável, essas imagens simbolizam a atração que as IPSS exercem sobre uma grande franja da classe política, que nelas se instalou e não necessariamente apenas pela nobreza das suas intenções.)

No tratamento desta questão deixo justa e deliberadamente de fora o universo empenhado, generoso e valente de um voluntariado que oferece partes importantes da sua vida a este tipo de organizações. Para esse voluntariado, as imagens televisivas a que me refiro e os alegados sinais exteriores do mais puro deslumbre pelo consumo apresentados pela Diretora Paula Brito e Costa são um insulto que deve provocar a mais instintiva revolta.

Sabemos que, na sua grande maioria, apesar do empenho do voluntariado, estas instituições carecem de gestão moderna e eficaz. Existem várias alternativas para solucionar progressivamente este problema, mas por razões sobre as quais nos devemos questionar tais alternativas têm sido sistematicamente adiadas para tempo incerto. Já não creio que neste momento a questão seja meramente ideológica. Falar de boa gestão a alguns agentes de intervenção social significava há algum tempo passar por vendilhões da pureza das questões sociais. Não creio que seja essa a razão que vai protelando as correções necessárias. No universo das instituições de solidariedade social coexistem a inovação e a organização cuidada, por um lado, e a inércia e os pequenos interesses instalados, por outro. O poder político sabe que num cenário extremo de desaparecimento absoluto deste universo, o Estado não seria capaz de preencher a sua função de prestador de serviços sociais, no contexto de complexidade e disseminação que eles hoje apresentam.

As imagens cruelmente desenterradas dos arquivos de imagem mostram uma Diretora desenvolta e insinuante mostrando uma rara capacidade de proximidade a várias instâncias do poder político. Pode dizer-se que o tema das doenças mentais raras justifica esse interesse, até porque não existem relatos de que a instituição falhe na sua missão. Assim, pelos elementos que vão sendo tornados públicos, em que não será de enjeitar alguma manipulação jornalística, estaremos alegadamente perante um caso típico de deslumbramento do poder e pelo poder e sobretudo perante a degradação das condições éticas e morais de aplicação e gestão de recursos públicos. Como diria o Inspetor Morse as questões passionais andam sempre a pairar por estas questões de embriaguez do poder e tudo indica que terão estado na origem da demissão do Secretário de Estado da Saúde. Tudo muito baixo calibre, mostrando que isso de admitir que as elites estão na governação é uma grande treta.

Mas a questão essencial parece ser esta: está o modelo de regulação das IPSS a funcionar em pleno, com capacidade para sinalizar atempadamente a degenerescência moral e ética dos projetos de gestão e os desvios inaceitáveis na boa aplicação de recursos públicos? Esse é o tema que me interessa verdadeiramente e começo sinceramente a ter dúvidas de que o modelo de regulação se esgote nas tão apregoadas auditorias.

Serão estas situações tão raras assim?

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