quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

COMPETÊNCIAS DIGITAIS




(Ecos da 1ª edição do Fórum Permanente para as Competências Digitais, com cinco ministros presentes, no Convento de S. Francisco em Coimbra. Demasiada pompa e circunstância para meu gosto, ministros obrigam, mas acima de tudo uma iniciativa que pode marcar o país e o seu futuro, se de facto a presença ministerial significar vontade de fazer andar as coisas.)

A iniciativa InCode 2030, coordenada pelo meu amigo Professor Pedro Guedes de Oliveira, com o empenho e a energia de sempre, bastaria por si só para relativizar o aparato com que a APDC (Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações) organizou o evento e na escala em que se apresentou. Já há muito que não via um evento tão concorrido de participantes, a ponto do espaço reservado no Convento para a realização ter sido claramente pequeno para tanto interesse, com gente de pé. Tenho de confessar que perante tal escala e aparato receei o pior, ou seja muito diaporama e pouco sumo. Mas o processo muito bottom up com o que o Pedro Guedes de Oliveira tem organizado a iniciativa nos seus cinco eixos (inclusão, educação, qualificação, especialização e investigação) era garantia de que a substância poderia vencer o aparato para ministro se envolver. E estou em crer que, embora ainda em estádio inicial, há um campo imenso para a produção de resultados. É percetível que existe conhecimento em Portugal sobre a questão das competências digitais à espera de ser mobilizado nas cinco dimensões da iniciativa e que para as quais existe um sistema de atores também desperto para a ação. O potencial de inclusão territorial é enorme e a exposição de experiências acaba por apresentar uma boa cobertura territorial, assim como o revelaram os cinco painéis. Não me pareceu algo de Lisboa-cêntrico e para mim foi uma boa novidade ver o José Tribolet um pouco perdido pelos claustros do Convento, sem palco, como talvez desejasse.

Pela aragem ministerial, não me parece difícil estimar que Manuel Heitor (Ministro da Ciência, da Tecnologia e do Ensino Superior) e Maria Manuel Leitão Marques (Presidência e Modernização Administrativa) sejam os ministros mais empenhados, não sendo ainda percetível se, na confusão instalada no Ministério da Educação, haverá energia suficiente para animar a iniciativa.

Da diversidade de intervenções que os cinco painéis ofereceram gostaria de salientar a de Neuza Pedro do Instituto Superior de Educação da Universidade de Lisboa, muito orientado para o confronto de ideias feitas sobre as competências digitais com a evidência de resultados da investigação disponível. Só para a ouvir valeu a pena a deslocação a Coimbra. Assim, por exemplo, a professora desmontou a ideia de uma relação virtuosa entre crianças, jovens e tecnologia, a qual tem fundamento na expressão lúdica, mas não na dimensão educativa. As tecnologias digitais não são ainda compreendidas do ponto de vista do seu uso para a resolução de tarefas complexas e como instrumento de densificação dos processos de aprendizagem. O valor incremental que as tecnologias podem trazer a outras competências está longe de estar a ser plenamente aproveitado, bem como o enriquecimento da aprendizagem que potenciam está longe de ser concretizado. Noutro plano, Neuza Pedro vem mostrar que, ao contrário do que se esperava, a chegada de professores mais jovens às Escolas não trouxe o incremento esperado em matéria de inovação pedagógica por via do digital. A formação inicial e a formação contínua de professores não interagem ao serviço da inovação nas metodologias de aprendizagem, se bem que possa ser invocada a descontinuidade na aposta da formação de professores como constrangimento a essa maior interação.

Como matéria também relevante, cobrindo o eixo da especialização, deve referir-se que começa a haver evidência da aposta do Pedro Guedes de Oliveira no estímulo a uma participação decisiva do ensino superior em formações de especialização nesta área. A presença de empresas como a Cisco, a Microsoft e a Delloitte em processos de desenvolvimento de formação especializada nestas áreas, com envolvimento dos politécnicos (Setúbal e Leiria mostraram-se) é um indicador de uma nova dinâmica.

Não imagino qual possa ter sido o impacto da 1ª Conferência do Fórum na perceção ministerial sobre a aposta que podem dedicar à matéria. Desse ponto de vista, pareceu-me desenhar-se no evento uma comunidade de interesses e de práticas que pode ser crucial para condução do processo, haja impulso político suficiente e transversalidade assegurada. A energia e a visão do Pedro mereciam esse resultado.

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