(Ecos da 1ª edição
do Fórum Permanente para as Competências Digitais, com cinco ministros presentes,
no Convento de S. Francisco em Coimbra. Demasiada pompa e circunstância para meu gosto, ministros obrigam, mas
acima de tudo uma iniciativa que pode marcar o país e o seu futuro, se de facto
a presença ministerial significar vontade de fazer andar as coisas.)
A iniciativa InCode
2030, coordenada pelo meu amigo Professor Pedro Guedes de Oliveira, com o
empenho e a energia de sempre, bastaria por si só para relativizar o aparato
com que a APDC (Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações)
organizou o evento e na escala em que se apresentou. Já há muito que não via um
evento tão concorrido de participantes, a ponto do espaço reservado no Convento
para a realização ter sido claramente pequeno para tanto interesse, com gente de pé.
Tenho de confessar que perante tal escala e aparato receei o pior, ou seja
muito diaporama e pouco sumo. Mas o processo muito bottom up com o que o Pedro Guedes de Oliveira tem organizado a iniciativa
nos seus cinco eixos (inclusão, educação, qualificação, especialização e investigação)
era garantia de que a substância poderia vencer o aparato para ministro se
envolver. E estou em crer que, embora ainda em estádio inicial, há um campo
imenso para a produção de resultados. É percetível que existe conhecimento em
Portugal sobre a questão das competências digitais à espera de ser mobilizado nas
cinco dimensões da iniciativa e que para as quais existe um sistema de atores
também desperto para a ação. O potencial de inclusão territorial é enorme e a
exposição de experiências acaba por apresentar uma boa cobertura territorial, assim
como o revelaram os cinco painéis. Não me pareceu algo de Lisboa-cêntrico e
para mim foi uma boa novidade ver o José Tribolet um pouco perdido pelos
claustros do Convento, sem palco, como talvez desejasse.
Pela aragem ministerial,
não me parece difícil estimar que Manuel Heitor (Ministro da Ciência, da
Tecnologia e do Ensino Superior) e Maria Manuel Leitão Marques (Presidência e Modernização
Administrativa) sejam os ministros mais empenhados, não sendo ainda percetível
se, na confusão instalada no Ministério da Educação, haverá energia suficiente para
animar a iniciativa.
Da diversidade de
intervenções que os cinco painéis ofereceram gostaria de salientar a de Neuza
Pedro do Instituto Superior de Educação da Universidade de Lisboa, muito
orientado para o confronto de ideias feitas sobre as competências digitais com
a evidência de resultados da investigação disponível. Só para a ouvir valeu a
pena a deslocação a Coimbra. Assim, por exemplo, a professora desmontou a ideia
de uma relação virtuosa entre crianças, jovens e tecnologia, a qual tem
fundamento na expressão lúdica, mas não na dimensão educativa. As tecnologias digitais
não são ainda compreendidas do ponto de vista do seu uso para a resolução de
tarefas complexas e como instrumento de densificação dos processos de aprendizagem.
O valor incremental que as tecnologias podem trazer a outras competências está
longe de estar a ser plenamente aproveitado, bem como o enriquecimento da
aprendizagem que potenciam está longe de ser concretizado. Noutro plano, Neuza
Pedro vem mostrar que, ao contrário do que se esperava, a chegada de
professores mais jovens às Escolas não trouxe o incremento esperado em matéria
de inovação pedagógica por via do digital. A formação inicial e a formação contínua
de professores não interagem ao serviço da inovação nas metodologias de
aprendizagem, se bem que possa ser invocada a descontinuidade na aposta da
formação de professores como constrangimento a essa maior interação.
Como matéria também
relevante, cobrindo o eixo da especialização, deve referir-se que começa a haver
evidência da aposta do Pedro Guedes de Oliveira no estímulo a uma participação
decisiva do ensino superior em formações de especialização nesta área. A presença
de empresas como a Cisco, a Microsoft e a Delloitte em processos de desenvolvimento
de formação especializada nestas áreas, com envolvimento dos politécnicos (Setúbal
e Leiria mostraram-se) é um indicador de uma nova dinâmica.
Não imagino qual possa
ter sido o impacto da 1ª Conferência do Fórum na perceção ministerial sobre a
aposta que podem dedicar à matéria. Desse ponto de vista, pareceu-me
desenhar-se no evento uma comunidade de interesses e de práticas que pode ser
crucial para condução do processo, haja impulso político suficiente e transversalidade
assegurada. A energia e a visão do Pedro mereciam esse resultado.
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