Novo momento de convergência temática entre os dois animadores deste humilde espaço de comentário, desta vez em torno da mais que provável chegada do nosso ministro das Finanças à presidência do Eurogrupo. Quanto a mim, o que aqui quero realçar são tão-só os seguintes seis tópicos: (i) a importância do facto, totalmente impensável até há muito pouco tempo, não decorre de termos um português à frente de uma instituição (ou entidade, no caso) da União Europeia – o exemplo de Durão já nos mostrou que ela até pode ser contraproducente ou mesmo negativa – mas sim do que ela revela de um governo que não se deixou vergar aos ditames europeus e que tem vindo a falar alto e de cabeça bem levantada nesse quadro; (ii) deste ponto de vista, a partilha de méritos que alguns querem agora fazer entre o atual governo e o que o precedeu é tudo menos justificável, sobretudo na medida em que Passos e os seus ajoelharam e baixaram obedientemente a cabeça ao establishment neoliberal, parecendo até contentes em por ele se verem comandados e capacitados no tolhimento dos seus concidadãos; (iii) a prestação de Mário Centeno (MC) tem sido eficaz e é digna de encómios, mas ela só ocorre no contexto de uma liderança política que arriscou – António Costa, pois claro – e de resultados que não só beneficiam muito largamente da conjuntura internacional e europeia como decorrem de uma estratégia de política económico-financeira que difere significativamente daquela que o próprio anunciava há dois anos atrás como a adequada; (iv) MC só conseguirá passar bem o enorme desafio que tem pela frente se souber perceber que não é tanto a pessoa dele que ali está mas sim que ele é sobretudo o reflexo de uma feliz conjunção de circunstâncias que pôde ser chamado a incarnar (incluindo uma notória posição defensiva de Merkel e um alinhamento bem preparado do PSE – não esqueçamos que o lamentável antecessor holandês também aparecia como inserido na área socialista, embora não passasse de um capacho de Schäuble); (v) Portugal só marcará pontos reais neste episódio da construção europeia se for capaz de colocar em cima da mesa a discussão efetiva da mudança da arquitetura da moeda única e do euro; (vi) por último, não deixa de ser chocante que os candidatos ao lugar provenham apenas de Portugal, do Luxemburgo, da Eslováquia e da Letónia – onde param os grandes europeus e porque estão eles parados e meramente ao lado do que de mais fundamental necessita a União Europeia destes dias de incerteza, taticismo e desorientação?
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