domingo, 3 de dezembro de 2017

A ESCOLHA DE MÁRIO


Novo momento de convergência temática entre os dois animadores deste humilde espaço de comentário, desta vez em torno da mais que provável chegada do nosso ministro das Finanças à presidência do Eurogrupo. Quanto a mim, o que aqui quero realçar são tão-só os seguintes seis tópicos: (i) a importância do facto, totalmente impensável até há muito pouco tempo, não decorre de termos um português à frente de uma instituição (ou entidade, no caso) da União Europeia – o exemplo de Durão já nos mostrou que ela até pode ser contraproducente ou mesmo negativa – mas sim do que ela revela de um governo que não se deixou vergar aos ditames europeus e que tem vindo a falar alto e de cabeça bem levantada nesse quadro; (ii) deste ponto de vista, a partilha de méritos que alguns querem agora fazer entre o atual governo e o que o precedeu é tudo menos justificável, sobretudo na medida em que Passos e os seus ajoelharam e baixaram obedientemente a cabeça ao establishment neoliberal, parecendo até contentes em por ele se verem comandados e capacitados no tolhimento dos seus concidadãos; (iii) a prestação de Mário Centeno (MC) tem sido eficaz e é digna de encómios, mas ela só ocorre no contexto de uma liderança política que arriscou – António Costa, pois claro – e de resultados que não só beneficiam muito largamente da conjuntura internacional e europeia como decorrem de uma estratégia de política económico-financeira que difere significativamente daquela que o próprio anunciava há dois anos atrás como a adequada; (iv) MC só conseguirá passar bem o enorme desafio que tem pela frente se souber perceber que não é tanto a pessoa dele que ali está mas sim que ele é sobretudo o reflexo de uma feliz conjunção de circunstâncias que pôde ser chamado a incarnar (incluindo uma notória posição defensiva de Merkel e um alinhamento bem preparado do PSE – não esqueçamos que o lamentável antecessor holandês também aparecia como inserido na área socialista, embora não passasse de um capacho de Schäuble); (v) Portugal só marcará pontos reais neste episódio da construção europeia se for capaz de colocar em cima da mesa a discussão efetiva da mudança da arquitetura da moeda única e do euro; (vi) por último, não deixa de ser chocante que os candidatos ao lugar provenham apenas de Portugal, do Luxemburgo, da Eslováquia e da Letónia – onde param os grandes europeus e porque estão eles parados e meramente ao lado do que de mais fundamental necessita a União Europeia destes dias de incerteza, taticismo e desorientação?

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