sábado, 16 de dezembro de 2017

NÃO TÃO RARÍSSIMO ASSIM...


Só na Segunda-Feira é que vamos conhecer integralmente a argumentação explicativa de José António Vieira da Silva em relação ao perturbador caso da “Raríssimas”. Até lá, portanto, o que se vai somando é o costumeiro ruído em cima de ruído num muito pequeno mundo de inveja e predação, de incessante e persecutória procura de fazer sangue a todo o custo.

Enquanto aguardamos por alguma improvável revelação adicional de início de semana, há porém algo que já vamos sabendo com grande certeza sobre as principais dimensões do escândalo em presença, como sejam as responsabilidades que começam a tornar-se claras e objetivas no tocante a Paula Brito e Costa (PBC) e os deslocados gritos de indignação que ficaram a marcar a demissão do anterior secretário de Estado da Saúde Manuel Delgado (MD) (pergunto-me se será este aquele jovem Delgado que conheci há trinta anos em estágio pedagógico na Escola Secundária de Gondomar).

Quanto à senhora (PBC), tudo aponta realmente para que se trate de uma mera questão de cruzamento, com desembocadura em foro criminal, entre ambição pessoal e ética limitada. Quanto ao ex-governante (MD), o mais chocante poderá ter estado na sua pueril prestação pública mas o que acabou por sobrelevar foi a forma pouco verdadeira que utilizou para sair de cena (alegando “grave violação de privacidade”), tudo sem prejuízo das suas eventuais ligações (a apurar?) ao âmago do problema sob investigação. Não desinteressante é também o regresso em força do debate acerca dos limites do público e do privado, na sequência dos lancinantes protestos de MD em defesa da salvaguarda da sua vida privada – na Quadratura desta semana, Pacheco Pereira deu-lhe até alguma cobertura indireta através da crítica que fez ao jornalismo voyeurista (aqui ilustrado com a imagem de um excerto de uma capa de jornal que abre este post).

Não obstante, o que do meu ponto de vista impera neste assunto é o que tem a ver com a verdadeira essência do que sempre fica por discutir seriamente e até às últimas consequências: a sociedade e o Estado, a(s) elite(s) e o povo, os direitos e os deveres, a cidadania de cabeça levantada e a caridade agradecida. Porque – e é preciso dizê-lo com frontalidade! – o domínio da solidariedade e do assistencialismo parece cada vez mais crivado de falhas do Estado ou pejado de malfeitores ou falsos bem-intencionados, acabando o serviço e as obras mais louváveis por ficar ainda, as mais das vezes e honrosas exceções à parte, associadas ao toque especializado da Igreja. Uma realidade que, por um lado, persiste historicamente lógica, mas que, por outro, não deixa por isso de ser socialmente incompreensível neste presente tempo de infindável guerrilha Estado-mercado...



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