(A campanha
eleitoral na Catalunha inicia-se em condições estranhas, para não dizer deploráveis,
com candidatos pressupostamente independentistas ainda na prisão,
particularmente Oriol Junqueras. Não sabemos até que ponto a vitimização poderá funcionar entre o
eleitorado independentista, mas uma coisa é já conhecida, o que parecia unido
parece um frangalho.)
Tudo indica que o
sistema judicial espanhol, em quem o governo de Rajoy depositou praticamente
todo o processo de aplicação do já célebre 155º, não terá a flexibilidade
suficiente para não proporcionar aos independentistas a arma da vitimização. É
verdade que essa vitimização está enfraquecida com a desorganizada resposta que
o bloco independentista ofereceu aos catalães em reação à aplicação do 155º.
Desde o exílio (palavra excessivamente forte para a reduzida dimensão do
personagem) de Puigdemont, que sempre sonhou com um regresso para o qual não
tem dimensão, até à maior coerência de Junqueras, passando pelos que se
refugiaram no argumento de que o ato independentista tinha sido meramente
simbólico (não nos levem a sério), a resposta independentista pareceu debandada
de exército destroçado e sem comando. Por isso, é difícil calcular a dimensão
do potencial efeito de vitimização que significa ir a votos com gente na prisão.
Os radicais do CUP (como a história nos ensina, já vieram a terreiro denunciar
a cobardia política da Esquerda Republicana (ER)e das forças de Puigdemont. O
que significa que o eleitorado com simpatias pelo independentismo votará com os
referenciais políticos bastante interrogados.
Se olharmos para as
sondagens como um barómetro desses eventuais efeitos de vitimização, alguma
coisa muda mas estruturalmente, isto é, do ponto de vista da composição que o
novo parlamento catalão irá apresentar, os riscos de um novo impasse não foram
eliminados. O que muda então? O CIUDADANOS parece emergir como a força política
não independentista que mais poderá capitalizar as desventuras do Procès,
aparecendo com uma votação praticamente equivalente à da ER, que sempre
aparecia como a força política maios votada. Mas se somarmos os votos
independentistas no meio da fragmentação desse bloco, a maioria independentista
não está longe. O crescimento do CIUDADANOS representa sobretudo o efeito de
dois processos: o ganho claro de votos ao PP que praticamente se afunda e a
reconsideração de uma certa direita burguesa catalã que terá refletido e optado
por uma abordagem mais a longo prazo ao sonho da independência. Os Socialistas
Catalães sobem alguma coisa mas estão longe de poder federar com ganhos o bloco
não independentista favorável a uma revisão constitucional profunda. Permanece
a incógnita sobre que peso vai representar a força política apoiada pela alcadeza
de Barcelona Colau. É claro que conhecidos os resultados os posicionamentos vão
alterar-se e com o estatuto de “sempre em
pé” que algumas forças independentistas deram provas tudo pode acontecer em
termos de alianças e reconsiderações.
Entretanto, por toda a
Espanha multiplicam-se os azedumes contra o supremacismo catalão, o que
significa que os catalães terão perdido a batalha da simpatia e da indulgência.
Como pormenor delicioso,
num debate recente entre a azougada líder catalã do CIUDADANOS, Inês Arrimadas
e a candidata nº 2 da Esquerda Republicana, Marta Rovira, o que evidencia a
entrada fulgurante da mulher na questão catalã (e que saudades de Carme
Chacón), ambas as candidatas erraram o valor da taxa de desemprego na Catalunha
por cerca de oito pontos percentuais (taxa real de 12% para o valor de 20%
sugeridos pelas duas candidatas).
Uma simples gaffe ou algo de mais profundo de
insensibilidade perante uma evidência que não é só, mas também, um efeito de
toda a impreparada aventura em que os Catalães se deixaram embalar?
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