sexta-feira, 21 de junho de 2019

BLANCHARD ENQUANTO REFORÇO


O francês Olivier Blanchard (OB) é indiscutivelmente um dos grandes economistas da atualidade. Conheci-o vagamente na juventude, sobretudo nos seminários do CEPREMAP, quando ainda tinha base em Paris. Depois foi o corrupio que se conhece, às vezes aflitivo na infatigável recorrência de uma presença que sempre se foi estendendo da academia (sobretudo Harvard e MIT) e da formalização e modelização a uma intervenção económica mais aplicada e politicamente orientada. A sua passagem pelo FMI foi um dos pontos mais marcantes da sua carreira, tendo sido surpreendente o modo como abandonou as suas funções de economista-chefe no Fundo para se dedicar às de Senior Fellow no “Peterson Institute for International Economics”. Mas OB esteve sete anos no FMI, e não foram quaisquer sete anos – foram os anos mais intensos da grande crise deste século (2008/2015). E o curioso é que tudo leva a crer que OB evoluiu nesses tempos de uma forte ortodoxia económica para uma inteligente mudança gradual de posicionamento e discurso – ainda há semanas o confirmei em Trento, tendo aliás tido também oportunidade de uma confirmação adicional e mais direta ao partilhar com ele e a mulher o transporte que nos levou do aeroporto de Veneza àquela cidade onde se desenrolaria o Festival de Economia. Pois OB esteve agora em Sintra no evento anual do BCE, tendo concedido na ocasião uma entrevista ao nosso “Público”, que até o chamou a destaque de primeira página. E o que nos veio ele dizer? Algo que parece cada vez mais evidente e vai na linha do que aqui temos salientado como possível e desejável para um país como Portugal: maior utilização da política orçamental, logo défices mais altos, desde que tal investimento público contribua para o fortalecimento da economia no médio prazo. E mais ainda: se a economia da Zona Euro não estiver a crescer, tal implicará que Portugal terá mesmo de estar no grupo de países obrigados a optar por uma expansão orçamental. Puro bom senso ou não estarei a ver bem o problema?

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