sexta-feira, 21 de junho de 2019

JOE STIGLITZ



(A publicação de mais uma obra de Joseph Stiglitz na Allen Lane traz-nos a marca de um Nobel de Economia cada vez mais comprometido com uma intervenção cívica a partir da economia, tão carenciada de gente que utilize a valia e coerência do seu pensamento para proporcionar aos cidadãos, americanos mas não só, uma vida melhor do que a resulta da aplicação do pensamento económico corrente. A obra chama-se “People, Power and Profits – Progressive Capitalism for an Age of Discontent”.)

Quando hoje pela manhã bem cedo gozava a minha incursão matinal das sextas-feiras pelo Porto que me é caro e que se cruza com a minha infância e primeira adolescência estava longe de pensar que acabaria a comprar alguns livros na Bertrand da Rua da Fábrica. Na Bertrand porque a Almedina na Rua de Ceuta ainda não tinha aberto as portas e os grupos organizados de turistas que esperavam entrada na Lello eram pelo menos cinco, com cerca de 20 pessoas cada. A manhã estava extraordinariamente leve, com uma frescura retemperadora do espírito e aquela hora já vi imensos turistas, asiáticos sobretudo, com as suas máquinas fotográficas em riste, neste caso nas letras garrafais PORTO em azul, colocadas em frente à Reitoria da UP na Praça dos Leões. Continuo a pensar que, por mais perversidades que o afluxo turístico nos possa trazer, não gosto de qualquer rejeição ao outro e já não me conseguia imaginar na pasmaceira do Porto sem turistas.

Voltando ao tema da obra de Stiglitz, o economista Nobel americano tem alternado entre obras focadas na regeneração do capitalismo tornando-o mais progressivo e inclusivo e contributos de mais fino recorte teórico. Nestas últimas, acho que o “Creating a Learning Society: a New Approach to Growth, Development and Social Progress”, redigida em colaboração com um dos seus apreciados coautores, Bruce Greenwald. A profissão e os pares não dedicaram a atenção que a relevância desta obra merece, já que ela é uma espécie de desenvolvimento para os nossos tempos do “Learning-by-Doing” de Kenneth Arrow que para mim sempre foi a origem de toda a moderna teoria do crescimento económico que Paul Romer e seus pares formalizaram.

Quando olho para a estante e vejo a área que a obra de Stiglitz já representa não é possível ignorar a força interventiva que o economista americano dá provas, numa consistência regular de pensamento crítico, provocando os seus pares mais acomodados e separando bem o que é avanço no rigor da formalização (caso do Creating a Learning Society) com a intervenção consistente e demolidora da crítica aos runos perversos e perigosos que o capitalismo está a assumir.

Li hoje o longo prefácio desta última obra e num registo de grande afeição pelas suas origens (caso típico dos economistas americanos mais prestigiados, prática e hábitos que me deliciam) e percebe-se como a evolução de desindustrialização operada na sua terra de origem, Gary, Indiana, na parte sul do Lago Michigan tem marcado a sua permanente atenção para com as derivas da economia americana. A última obra de Stiglitz emerge quando os Democratas americanos aparecem atomizados e, economicamente falando, demasiado presos e reféns da controvérsia em torno da moderna teoria monetária. E quando, em simultâneo, Trump anuncia a sua recandidatura a partir do Estado americano mais recetivo ao folclore eleitoral, a Flórida.

Pela leitura do seu longo prefácio, na última obra de Stiglitz há matéria suficiente e da mais relevante para uma onda integradora da campanha dos Democratas. Também à esquerda a progressão e materialização das ideias económicas no plano político tem as suas rampas de difícil afirmação.

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