(A publicação de mais uma obra de Joseph Stiglitz na Allen
Lane traz-nos a marca de um Nobel de Economia cada vez mais comprometido com
uma intervenção cívica a partir da economia, tão carenciada de gente que
utilize a valia e coerência do seu pensamento para proporcionar aos cidadãos,
americanos mas não só, uma vida melhor do que a resulta da aplicação do
pensamento económico corrente. A obra chama-se “People, Power and
Profits – Progressive Capitalism for an Age of Discontent”.)
Quando hoje pela manhã bem cedo gozava a minha incursão matinal das
sextas-feiras pelo Porto que me é caro e que se cruza com a minha infância e
primeira adolescência estava longe de pensar que acabaria a comprar alguns livros
na Bertrand da Rua da Fábrica. Na Bertrand porque a Almedina na Rua de Ceuta
ainda não tinha aberto as portas e os grupos organizados de turistas que
esperavam entrada na Lello eram pelo menos cinco, com cerca de 20 pessoas cada.
A manhã estava extraordinariamente leve, com uma frescura retemperadora do espírito
e aquela hora já vi imensos turistas, asiáticos sobretudo, com as suas máquinas
fotográficas em riste, neste caso nas letras garrafais PORTO em azul, colocadas
em frente à Reitoria da UP na Praça dos Leões. Continuo a pensar que, por mais
perversidades que o afluxo turístico nos possa trazer, não gosto de qualquer
rejeição ao outro e já não me conseguia imaginar na pasmaceira do Porto sem
turistas.
Voltando ao tema da obra de Stiglitz, o economista Nobel americano tem alternado
entre obras focadas na regeneração do capitalismo tornando-o mais progressivo e
inclusivo e contributos de mais fino recorte teórico. Nestas últimas, acho que o
“Creating a Learning Society: a New Approach
to Growth, Development and Social Progress”, redigida em colaboração com um
dos seus apreciados coautores, Bruce Greenwald. A profissão e os pares não
dedicaram a atenção que a relevância desta obra merece, já que ela é uma espécie
de desenvolvimento para os nossos tempos do “Learning-by-Doing” de Kenneth Arrow
que para mim sempre foi a origem de toda a moderna teoria do crescimento económico
que Paul Romer e seus pares formalizaram.
Quando olho para a estante e vejo a área que a obra de Stiglitz já representa
não é possível ignorar a força interventiva que o economista americano dá
provas, numa consistência regular de pensamento crítico, provocando os seus
pares mais acomodados e separando bem o que é avanço no rigor da formalização
(caso do Creating a Learning Society)
com a intervenção consistente e demolidora da crítica aos runos perversos e
perigosos que o capitalismo está a assumir.
Li hoje o longo prefácio desta última obra e num registo de grande afeição
pelas suas origens (caso típico dos economistas americanos mais prestigiados,
prática e hábitos que me deliciam) e percebe-se como a evolução de desindustrialização
operada na sua terra de origem, Gary, Indiana, na parte sul do Lago Michigan
tem marcado a sua permanente atenção para com as derivas da economia americana.
A última obra de Stiglitz emerge quando os Democratas americanos aparecem atomizados
e, economicamente falando, demasiado presos e reféns da controvérsia em torno
da moderna teoria monetária. E quando, em simultâneo, Trump anuncia a sua
recandidatura a partir do Estado americano mais recetivo ao folclore eleitoral,
a Flórida.
Pela leitura do seu longo prefácio, na última obra de Stiglitz há matéria
suficiente e da mais relevante para uma onda integradora da campanha dos Democratas.
Também à esquerda a progressão e materialização das ideias económicas no plano
político tem as suas rampas de difícil afirmação.
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