terça-feira, 11 de junho de 2019

FINANCEIRICES



(Que me perdoem alguns amigos próximos que passaram ou desenvolvem atividade, impolutos, pelo sistema financeiro português, mas a situação começa a ficar irrespirável, tamanha é a merda que emerge a cada cavadela mais profunda e estruturada. E o que mais me irrita é o desplante de algumas chefias que parecem julgar-se acima de qualquer escrutínio democrático, num processo de desculpabilização permanente)

Bem pode o Partido Socialista tentar passar pelos pingos da chuva, transformados em grossas bátegas de água, das suas frequências passadas das lideranças do sistema financeiro e regulador, algo que é extensivo ao PSD do Bloco Central de outros tempos. Bem podem as amizades de longa data geradas em experiências mais ou menos longas de participação no sistema protegerem-se quanto baste para que nada lhes seja assacado em termos de responsabilidades e tudo remetido para o mundo dos riscos imprevisíveis. Mas para o cidadão comum, que nunca passou por esses lugares de larga estima, e que não morre de amores nem pela Opus Dei nem pelo uso do avental maçónico, a situação de agravo começa a ser insustentável. As tropelias passadas do sistema financeiro são hoje responsáveis pelo principal fator de desconfiança em relação às instituições políticas e democráticas e o pior é que um cidadão medianamente informado e empenhado na coisa pública não pode deixar de lhes reconhecer inteira e profunda razão.

Bem pode também o Francisco Assis vir a terreiro defender a honorabilidade de Vítor Constâncio insurgindo-se pelo que em seu entender representa um linchamento público de tal personalidade. Não está em causa a honorabilidade do ex-Governador do Banco de Portugal que recebeu inclusivamente um prémio pela sua intervenção ocupando uma Vice –Presidência do Banco Central Europeu. O que está em causa é a impreparação e o desplante de se sujeitar a um inquérito parlamentar sem a preparação adequada e sem a autoavaliação rigorosa e corajosa da sua atividade como regulador.

Nas audições parlamentares em torno do caso Caixa Geral de Depósitos e do então manda-chuva Berardo dos amigos do Senhor Engenheiro do helicóptero pelos céus de Lisboa em direção à sede do BCP, neste caso de Filipe Pinhal, afirmaram-se coisas terríveis, dignas de investigação policial e não apenas parlamentar. Ou são mentira e então é preciso julgar o mentiroso que para salvar a causa própria acusa indiscriminadamente ao mais alto nível ou são verdade e, meus senhores, se esse for o caso então o legado da era Sócrates é ainda mais tenebroso do que as visões mais agressivas o poderiam admitir.

A cada desenvolvimento mais se me enraíza a ideia de que a desculpa dos riscos sistémicos é uma valente tanga para cidadãos incautos. Se perante todo este conjunto de tropelias, de luta pelo poder, de incompetências, conluios e cumplicidades nada se passa em termos de estabilidade do sistema apetece perguntar mas que raio de risco sistémico está a ser protegido?

O que me parece estar claro é que perante as fragilidades do sistema de justiça o que tem prosperado é um típico clima de “moral hazard” (risco moral). A impunidade e o desplante camPeiam porque, em última instância, o recurso ao orçamento de estado está sempre presente, sem nacionalização. E já agora estou com curiosidade em saber se a denúncia de Vieira Monteiro, então administrador da CGD, sobre a operação Boats Caravela, segundo a qual a operação concretizada não foi idêntica à por ele aprovada e assinada, vai ser corretamente investigada. Ou muito me engano ou é outro caso de fartar vilanagem e de resolução de falhas privadas com recurso ao banco público, socializando maliciosamente riscos.

O cheiro disto tudo começa a ser insuportável e a elite financeira é um grande embuste.

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