(Que me perdoem alguns amigos próximos que passaram ou
desenvolvem atividade, impolutos, pelo sistema financeiro português, mas a situação
começa a ficar irrespirável, tamanha é a merda que emerge a cada cavadela mais
profunda e estruturada. E o que mais me irrita é o desplante de algumas chefias que parecem
julgar-se acima de qualquer escrutínio democrático, num processo de desculpabilização
permanente)
Bem pode o Partido Socialista tentar passar
pelos pingos da chuva, transformados em grossas bátegas de água, das suas frequências
passadas das lideranças do sistema financeiro e regulador, algo que é extensivo
ao PSD do Bloco Central de outros tempos. Bem podem as amizades de longa data geradas
em experiências mais ou menos longas de participação no sistema protegerem-se
quanto baste para que nada lhes seja assacado em termos de responsabilidades e
tudo remetido para o mundo dos riscos imprevisíveis. Mas para o cidadão comum,
que nunca passou por esses lugares de larga estima, e que não morre de amores nem
pela Opus Dei nem pelo uso do avental maçónico, a situação de agravo começa a
ser insustentável. As tropelias passadas do sistema financeiro são hoje responsáveis
pelo principal fator de desconfiança em relação às instituições políticas e
democráticas e o pior é que um cidadão medianamente informado e empenhado na
coisa pública não pode deixar de lhes reconhecer inteira e profunda razão.
Bem pode também o Francisco Assis vir a terreiro defender a honorabilidade
de Vítor Constâncio insurgindo-se pelo que em seu entender representa um linchamento
público de tal personalidade. Não está em causa a honorabilidade do
ex-Governador do Banco de Portugal que recebeu inclusivamente um prémio pela sua
intervenção ocupando uma Vice –Presidência do Banco Central Europeu. O que está
em causa é a impreparação e o desplante de se sujeitar a um inquérito parlamentar
sem a preparação adequada e sem a autoavaliação rigorosa e corajosa da sua
atividade como regulador.
Nas audições parlamentares em torno do caso Caixa Geral de Depósitos e do então
manda-chuva Berardo dos amigos do Senhor Engenheiro do helicóptero pelos céus
de Lisboa em direção à sede do BCP, neste caso de Filipe Pinhal, afirmaram-se
coisas terríveis, dignas de investigação policial e não apenas parlamentar. Ou
são mentira e então é preciso julgar o mentiroso que para salvar a causa própria
acusa indiscriminadamente ao mais alto nível ou são verdade e, meus senhores, se
esse for o caso então o legado da era Sócrates é ainda mais tenebroso do que as
visões mais agressivas o poderiam admitir.
A cada desenvolvimento mais se me enraíza a ideia de que a desculpa dos
riscos sistémicos é uma valente tanga para cidadãos incautos. Se perante todo este
conjunto de tropelias, de luta pelo poder, de incompetências, conluios e cumplicidades
nada se passa em termos de estabilidade do sistema apetece perguntar mas que
raio de risco sistémico está a ser protegido?
O que me parece estar claro é que perante as fragilidades do sistema de
justiça o que tem prosperado é um típico clima de “moral hazard” (risco moral).
A impunidade e o desplante camPeiam porque, em última instância, o recurso ao orçamento
de estado está sempre presente, sem nacionalização. E já agora estou com curiosidade em saber se a
denúncia de Vieira Monteiro, então administrador da CGD, sobre a operação Boats Caravela, segundo a qual a operação
concretizada não foi idêntica à por ele aprovada e assinada, vai ser
corretamente investigada. Ou muito me engano ou é outro caso de fartar vilanagem
e de resolução de falhas privadas com recurso ao banco público, socializando
maliciosamente riscos.
O cheiro disto tudo começa a ser insuportável e a elite financeira é um
grande embuste.
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