(As verdades são para ser ditas. Faz bem o jornalista
Pedro Garcias, também viticultor-produtor no Douro, em denunciar a áurea que
tem colocado ao empresário Mário Ferreira uma passadeira vermelha para explorar
o potencial do Douro. Quem não quer ser lobo que não lhe vista a pele. Cada vez mais me inclino
para pensar que Mário Ferreira é um simples predador relativamente à região.)
A perceção que um cidadão normal, de literacia informativa média, tem
construído sobre a atividade que o empresário Mário Ferreira tem vindo a
desenvolver em relação à região do Douro pode ser numa primeira linha ofuscada
pela pompa e circunstância da pegada do conhecido empresário. Mas quando se vai
além dessa perceção influenciada pelas luzes da ribalta (e Mário Ferreira tem
palco, há muita gente disposta a conceder-lhe palcos diversos), e se ouvem
pessoas da região, então a opinião muda porque as evidências a isso conduzem. As
atividades de Mário Ferreira deixam pouco valor acrescentado e se pensarmos sobretudo
na atividade de navegação sabe-se que ela usa a joia da coroa da região – o rio
e as suas paisagens inimitáveis. Mas usa-a essencialmente em seu proveito e
pelos testemunhos que se vai ouvindo a atividade de navegação deixa um reduzido
valor acrescentado, mas produz pegada.
Não vou entrar nas histórias que tive oportunidade de conhecer através da
reportagem televisiva de Sandra Felgueiras na RTP já que não tenho conhecimento
complementar e pouco posso acrescentar às cumplicidades que o empresário, enquanto
responsável pela gestão das atividades no Museu dos Transportes (pela sua posição
na associação que o gere), tem vindo a desenvolver com a empresa de eventos que
a sua mulher, ex-juíza, dirige. São comportamentos típicos de um predador que
usa o domínio público em seu exclusivo e próprio proveito.
Até agora, o estatuto de empreendedor de Mário Ferreira em épocas em que o
empreendedorismo chegou a ser a religião oficial do governo Passos Coelho e
dessa fação do PSD, abriu-lhe portas em tudo que é negócio com intervenção pública
facilitadora. Hábil e criativo nos negócios, o empresário tirou disso partido e
foi instalando o seu estatuto de predador.
Por isso, o artigo de Pedro Garcia é corajoso (link aqui). Usa a metáfora da coutada
para condenar o estilo do empresário. Acho que essa metáfora não é suficiente e
prefiro a de predador. A imagem da navegação fluvial é mais agradável que a de
uma extração mineira em sítios ambientalmente irrepreensíveis. Mas não é por
isso que o ato predatório não existe, sobretudo quando a pegada ecológica sobre
o rio é inequívoca e não se vislumbra propensão para compensar essas
externalidades negativas.
E o que é que pensarão os grandes players do vinho da região?
Será que a petição para a reabilitação da linha turística do Douro representa
o início de uma outra perspetiva? Só espero que se trate de um investimento público
com gestão pública. Pois acaso a iniciativa fosse aberta a mercado, o Douro correria sempre o
risco de ver chegar o predador com outro fato e por outra porta.
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