segunda-feira, 24 de junho de 2019

MÁRIO, O PREDADOR



(As verdades são para ser ditas. Faz bem o jornalista Pedro Garcias, também viticultor-produtor no Douro, em denunciar a áurea que tem colocado ao empresário Mário Ferreira uma passadeira vermelha para explorar o potencial do Douro. Quem não quer ser lobo que não lhe vista a pele. Cada vez mais me inclino para pensar que Mário Ferreira é um simples predador relativamente à região.)

A perceção que um cidadão normal, de literacia informativa média, tem construído sobre a atividade que o empresário Mário Ferreira tem vindo a desenvolver em relação à região do Douro pode ser numa primeira linha ofuscada pela pompa e circunstância da pegada do conhecido empresário. Mas quando se vai além dessa perceção influenciada pelas luzes da ribalta (e Mário Ferreira tem palco, há muita gente disposta a conceder-lhe palcos diversos), e se ouvem pessoas da região, então a opinião muda porque as evidências a isso conduzem. As atividades de Mário Ferreira deixam pouco valor acrescentado e se pensarmos sobretudo na atividade de navegação sabe-se que ela usa a joia da coroa da região – o rio e as suas paisagens inimitáveis. Mas usa-a essencialmente em seu proveito e pelos testemunhos que se vai ouvindo a atividade de navegação deixa um reduzido valor acrescentado, mas produz pegada.

Não vou entrar nas histórias que tive oportunidade de conhecer através da reportagem televisiva de Sandra Felgueiras na RTP já que não tenho conhecimento complementar e pouco posso acrescentar às cumplicidades que o empresário, enquanto responsável pela gestão das atividades no Museu dos Transportes (pela sua posição na associação que o gere), tem vindo a desenvolver com a empresa de eventos que a sua mulher, ex-juíza, dirige. São comportamentos típicos de um predador que usa o domínio público em seu exclusivo e próprio proveito.

Até agora, o estatuto de empreendedor de Mário Ferreira em épocas em que o empreendedorismo chegou a ser a religião oficial do governo Passos Coelho e dessa fação do PSD, abriu-lhe portas em tudo que é negócio com intervenção pública facilitadora. Hábil e criativo nos negócios, o empresário tirou disso partido e foi instalando o seu estatuto de predador.

Por isso, o artigo de Pedro Garcia é corajoso (link aqui). Usa a metáfora da coutada para condenar o estilo do empresário. Acho que essa metáfora não é suficiente e prefiro a de predador. A imagem da navegação fluvial é mais agradável que a de uma extração mineira em sítios ambientalmente irrepreensíveis. Mas não é por isso que o ato predatório não existe, sobretudo quando a pegada ecológica sobre o rio é inequívoca e não se vislumbra propensão para compensar essas externalidades negativas.

E o que é que pensarão os grandes players do vinho da região?

Será que a petição para a reabilitação da linha turística do Douro representa o início de uma outra perspetiva? Só espero que se trate de um investimento público com gestão pública. Pois acaso a iniciativa fosse aberta a mercado, o Douro correria sempre o risco de ver chegar o predador com outro fato e por outra porta.

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