(cartoons de Joe Cummings, http://www.ft.com e James Ferguson, http://www.ft.com)
(Rytis Daukantas, https://www.politico.com)
A ambição leva facilmente à perda de limites e ao correspondente ridículo. Quem não se lembra das posições agressivamente críticas do falcão Jens Weidmann, governador do Bundesbank, sobre a expansionista política monetária europeia conduzida por Mario Draghi? Posições que foram até ao ponto de testemunhar no Tribunal Constitucional da Alemanha contra o programa de compra de ativos por parte do BCE e de liderar a contestação ao mecanismo OMT (Outright Monetary Transactions). Afirmava ele em 2012: “Vejo um certo número de argumentos contra o programa. Eles incluem princípios de estabilidade política e a questão de saber se o banco central tem um mandato democrático para adotar uma medida dessa natureza”.
Pois é. O dito vem agora dar o dito por não dito, ou melhor, sentar-se comodamente à sombra das decisões judiciais de então (“O Tribunal de Justiça Europeu examinou a OMT e determinou que ela seja legal. Além disso, a OMT é a política em curso.”) para se justificar (“A minha posição, no entanto, não era legalmente fundamentada. Foi impulsionada pela preocupação de que a política monetária poderia ser capturada na esteira da política orçamental. É claro que um banco central deve agir de forma decisiva no worst-case scenario, mas dada a sua independência não deve haver dúvidas de que está a agir dentro do quadro do seu mandato.”) e assim procurar a reabilitação que lhe possa garantir a tão desejada nomeação para o lugar ainda ocupado por Draghi.
O presidente francês é que não esteve com papas na língua ao vir produzir a seguinte declaração: “Estou muito feliz, realmente muito feliz, que membros que se opuseram fortemente à decisão de Mario Draghi, e até desenvolveram uma ação legal contra o mecanismo OMT que foi implementado, se estejam a converter, embora tardiamente. Acho que tal mostra que há bem em todos nós... e tal reforça o meu otimismo na natureza humana.” Na mouche! Uma denúncia cabal do oportunismo do ex-conselheiro económico da chanceler Angela Merkel, disposto agora a engolir o que for preciso para chegar ao posto pretendido numa espécie mal-amanhada e muito própria do whatever it takes com que o seu ex-adversário Draghi salvou a moeda única europeia.
Pessoalmente, tenho cá a impressão de que Macron tem duas linhas vermelhas, ambas alemãs, na partilha dos top jobseuropeus que vai continuar a ser negociada na noite de hoje em Bruxelas: Jens Weidmann no BCE e Manfred Weber na CE. Por razões de princípio e de interesse europeu, certamente, mas também por interesse mais propriamente franco-francês, ao estar a reservar no seu íntimo a presidência do BCE para um compatriota (Benoît Cœuré), e partidário, ao admitir a liderança do Conselho Europeu ou da Política Externa e de Segurança pela sua correligionária Margrethe Vertager (caso não consiga fazê-la passar para a presidência da Comissão em desfavor do favorito socialista, Frans Timmermans), deixando taticamente aos alemães duas opções menores para Weber: a presidência do Parlamento Europeu ou a primeira vice-presidência da Comissão. Mas este é um puzzle complexo e que está ainda longe de estar estabilizado...
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