quarta-feira, 12 de junho de 2019

QUEM?


(Nicolas Vadot, http://www.levif.be)

As diversas conversas a que assisti à mesa das refeições em Trento, bem assim como em várias trocas ocasionais de impressões durante os debates ou em momentos de corredor ou passeio, apresentavam um tópico dominante: o da especulação em torno do puzzle das próximas lideranças europeias, a serem definidas (diz-se) durante o mês que vem.

A questão, vista de fora, é do tipo daquela velha discussão sobre prevalência iniciática da galinha ou do ovo, aqui traduzível em termos de por onde começar a fechar posições. Uma hipótese, considerando que Merkel pudesse vir a estar na jogada: (i) Merkel seria a melhor “cara” possível da União, assumindo naturalmente a presidência do Conselho; (ii) se este fosse o caso, o conservador Weber cairia às mãos da liberal Vertager, que comandaria a Comissão (CE); (iii) tal conduziria o socialista Timmermans a ter de resignar-se com a presidência do Parlamento Europeu (PE); (iv) a inverosimilhança deste cenário decorre, porém, de deixar excessivos graus de liberdade para o cargo provavelmente mais relevante dos tempos que aí vêm, a sucessão de Draghi na governação do Banco Central Europeu. Vejamos, então, uma hipótese alternativa, pegando no assunto ao revés e deixando de fora Merkel (por decisão própria): (i) os alemães não prescindiriam de Weidmann para segurar as rédeas do BCE, sobretudo assim impondo a defesa do seu alegado interesse nacional contra a completude da moeda única; (ii) a ser assim, Weber cairia mais uma vez para abrir campo a Vertager na CE (ou a Barnier, menos provavelmente); (iii) Timmermans presidiria ao PE; (iv) o Conselho caberia, neste quadro, a um socialista (daí alguns terem falado do nosso António Costa). Por fim, uma possibilidade mais trabalhada e correspondendo a um contexto de eurogeringonça que afastasse significativamente o peso do PPE e dos interesses alemães seria o seguinte: (i) Macron e os socialistas fariam passar o francês Benoît Cœuré para o BCE; (ii) Vertager presidiria à CE (não sendo de excluir que Timmermans ainda pudesse chegar ao lugar); (iii) Weber seria recuperado para o PE; (iv) a liderança do Conselho caberia a uma figura atualmente prestigiada mas menos badalada, como poderia acontecer com um representante do PPE que assim viabilizasse uma presença mais razoavelmente condigna do maior grupo partidário europeu (Barnier e Lagarde seriam os nomes mais óbvios, não tivessem eles a limitação de serem franceses). E ainda houve quem avançasse com nomes como o do inefável finlandês Olli Rehn ou do irlandês Philip Lane numa tentativa de ajuda à composição do ramalhete. 

Dito tudo isto e ponderadas todas as combinações que fui ouvindo – as acima e outras mais –, há algo que tenho por certo: o que vai sair de todo este complexo processo negocial será sempre diferente de tudo quanto formos sendo capazes de inventar antes de uma clarificação política que ainda está longe de ser conhecida, alcançada ou até esboçada.

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