(Braga fervilha de atividade e eventos. Mas não escapa a
alguns desconchavos urbanos, diga-se em boa justiça não devidos ao atual executivo
liderado pelo social-democrata Ricardo Rio. Estranhamente, um dos meus pontos de referência
na Cidade, acolhe em si um desses desconchavos, mas hoje cedo percebi que lá
havia uma outra atmosfera)
Nas minhas incursões de trabalho pelo Cávado
e pela cidade de Braga costumo chegar bem cedo. Gosto antes do trabalho de
simular o estatuto de visitante acidental e tentar fixar algumas atmosferas. Numa
cidade cuja rede de vias rápidas de entrada não é de total e fácil legibilidade
para um visitante, o Campo da Vinha é o meu referencial de entrada e de paragem.
A acessibilidade é fácil e legível. O estacionamento é central e amplo. A praça
tem uma forte proximidade à zona pedonal, ao comércio urbano mais interessante
e é sempre possível antes de reuniões matutinas ainda divagar um pouco pelo
centro histórico, regra geral com uma incursão do Campo da Vinha à Brasileira,
cujo café de saco me enche as medidas e me afaga o palato para além de uma paleta
de visitantes regulares que gosto de partilhar.
Mas se há exemplo de desconchavo urbanístico que vale a pena ser
considerado caso de estudo pois o seu potencial era imenso é o Campo da Vinha. Estamos
perante uma das mais generosas praças de Braga, ampla, embora descendente que,
num cenário harmónico de ocupação, poderia equiparar-se a uma cativante praça
italiana ou espanhola. Mas qual quê! O Campo da Vinha está infestado de obstáculos
anormais, volumes de expressão e altura exageradas, de descontinuidades, de
mamarrachos e aberrações de mobiliário urbano, pavimentos e mesmo o tratamento à
superfície do grande espaço de estacionamento subterrâneo é todo ele um manual
de mau gosto e de volumetria indevida. Logo, a praça não tem qualquer
legibilidade possível de praça ampla, aberta à luz e valorizadora de alguns
edifícios dignos e com porte, como é o caso do edifício social da Santa Casa da
Misericórdia de Braga e o edifício creio que pertencente à Câmara Municipal
situado no topo sul da praça. Alguns bancos de jardim e uma esplanada amovível
que constitui o menor mal possível naquele contexto minimizam um pouco o
desconchavo, mas o Campo da Vinha que poderia ser uma praça vibrante e
acolhedora é mais um ponto de passagem sem qualquer leitura decente de Cidade.
Pois hoje, depois de algum tempo em que não visitei o lugar, à hora bem matutina
a que cheguei a praça respirava uma atmosfera diferente. O que era afinal que parecia
diferente? Bem, com tanto obstáculo e mamarracho, as obras de renovação do
mercado municipal obrigaram a Câmara Municipal à colocação de algumas tendas
gigantes para acolher as diferentes funções e vendedores que inscrevem normalmente
a sua presença no mercado municipal.
Vendo bem, a decisão até me parece acertada. Numa praça já desvinculada do
seu sentido mais profundo as tendas substitutas do mercado acrescentam dano à
situação, mas pelo menos aquela hora vivia-se uma atmosfera diferente bem mais
fervilhante do que a normalmente ali observada. No meio de tanto desconchavo, a
vivência do mercado traz, provisoriamente, para a praça novos cheiros, novos ruídos,
novos personagens. De mal o menos.
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