quinta-feira, 13 de junho de 2019

O CAMPO DA VINHA



(Braga fervilha de atividade e eventos. Mas não escapa a alguns desconchavos urbanos, diga-se em boa justiça não devidos ao atual executivo liderado pelo social-democrata Ricardo Rio. Estranhamente, um dos meus pontos de referência na Cidade, acolhe em si um desses desconchavos, mas hoje cedo percebi que lá havia uma outra atmosfera)

Nas minhas incursões de trabalho pelo Cávado e pela cidade de Braga costumo chegar bem cedo. Gosto antes do trabalho de simular o estatuto de visitante acidental e tentar fixar algumas atmosferas. Numa cidade cuja rede de vias rápidas de entrada não é de total e fácil legibilidade para um visitante, o Campo da Vinha é o meu referencial de entrada e de paragem. A acessibilidade é fácil e legível. O estacionamento é central e amplo. A praça tem uma forte proximidade à zona pedonal, ao comércio urbano mais interessante e é sempre possível antes de reuniões matutinas ainda divagar um pouco pelo centro histórico, regra geral com uma incursão do Campo da Vinha à Brasileira, cujo café de saco me enche as medidas e me afaga o palato para além de uma paleta de visitantes regulares que gosto de partilhar.

Mas se há exemplo de desconchavo urbanístico que vale a pena ser considerado caso de estudo pois o seu potencial era imenso é o Campo da Vinha. Estamos perante uma das mais generosas praças de Braga, ampla, embora descendente que, num cenário harmónico de ocupação, poderia equiparar-se a uma cativante praça italiana ou espanhola. Mas qual quê! O Campo da Vinha está infestado de obstáculos anormais, volumes de expressão e altura exageradas, de descontinuidades, de mamarrachos e aberrações de mobiliário urbano, pavimentos e mesmo o tratamento à superfície do grande espaço de estacionamento subterrâneo é todo ele um manual de mau gosto e de volumetria indevida. Logo, a praça não tem qualquer legibilidade possível de praça ampla, aberta à luz e valorizadora de alguns edifícios dignos e com porte, como é o caso do edifício social da Santa Casa da Misericórdia de Braga e o edifício creio que pertencente à Câmara Municipal situado no topo sul da praça. Alguns bancos de jardim e uma esplanada amovível que constitui o menor mal possível naquele contexto minimizam um pouco o desconchavo, mas o Campo da Vinha que poderia ser uma praça vibrante e acolhedora é mais um ponto de passagem sem qualquer leitura decente de Cidade.

Pois hoje, depois de algum tempo em que não visitei o lugar, à hora bem matutina a que cheguei a praça respirava uma atmosfera diferente. O que era afinal que parecia diferente? Bem, com tanto obstáculo e mamarracho, as obras de renovação do mercado municipal obrigaram a Câmara Municipal à colocação de algumas tendas gigantes para acolher as diferentes funções e vendedores que inscrevem normalmente a sua presença no mercado municipal.

Vendo bem, a decisão até me parece acertada. Numa praça já desvinculada do seu sentido mais profundo as tendas substitutas do mercado acrescentam dano à situação, mas pelo menos aquela hora vivia-se uma atmosfera diferente bem mais fervilhante do que a normalmente ali observada. No meio de tanto desconchavo, a vivência do mercado traz, provisoriamente, para a praça novos cheiros, novos ruídos, novos personagens. De mal o menos.

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