terça-feira, 28 de janeiro de 2025

A GARGANTA FUNDA DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

(Até há bem poucos dias, a narrativa dominante sobre a guerra tecnológica entre os EUA e a China rezava mais ou menos o seguinte. Ao passo que os EUA apostaram forte na inteligência artificial, esperando dominar essa guerra por essa via, a China investiu fortemente nas tecnologias elétricas e na descarbonização, adquirindo uma superioridade difícil de colmatar no curto e médio prazo. Por outro lado, a China sabe que o mundo da inteligência artificial e do digital em geral é grande produtora de emissões, pelo que não estará também a salvo dos desafios da descarbonização. Pois esta narrativa corre o risco de estar obsoleta e ter de ser atirada para o lixo, já que pelo que se passou nos últimos dias a China também não ter andado a dormir em matéria de inteligência artificial.)

De facto, um pouco inesperadamente, a China lançou no mercado uma aplicação de inteligência artificial, a DeepSeek, que agitou os tecnólogos e arrasou a posição de capitalização de algumas tecnológicas americanas, como por exemplo a NVIDIA, que teve perdas fabulosas num único dia, enquanto a aplicação chinesa era a mais descarregada por esses dias. O New York Times e o Washington Post têm concedido ampla cobertura ao fenómeno.

A história da DeepSeek ainda está por contar, mas tudo indica que se trata de uma start-up que apostou forte no desenvolvimento da inteligência artificial e acabou por surpreender o mercado.

Não será seguramente com a DeepSeek que o totalitarismo chinês sairá de cara lavada. Mas não deixa de ser curioso ter-se tratado de uma simples start-up a emergir do pouco que se conhecia da mesma e a complicar a narrativa de que a IA estaria na China com anos-luz de atraso.

Para já, interessa-me sobretudo a confirmação da minha intuição de que a guerra comercial e tecnológica, ou pelo menos as intenções de a promover, entre os EUA e a China foi alicerçada inicialmente numa desvalorização perigosa do potencial chinês. 

Não posso esquecer-me da máxima que utilizava nas minhas aulas de economia da inovação quando alertava os alunos para o facto de 1% de engenheiros e tecnólogos a fazer investigação na China representarem uma máxima crítica sem paralelo na chamada fronteira tecnológica da I&D e da inovação. E, como sabemos, para uma dada produtividade da produção de ideias, quanto maior for a massa absoluta de investigadores maior também o output possível em termos de conhecimento.
 

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