terça-feira, 21 de janeiro de 2025

BELOS MOMENTOS NO GRANDE ECRÃ

Sobretudo para a gente da minha geração, habituada ao longo de décadas a fruir de bom cinema em sala própria, o mix da preguiça associada ao avançar da idade e da facilidade de acesso às plataformas de streaming (Netflix, Max, Apple TV, Amazon Prime, Disney+, Filmin, etc.) é altamente perverso ao potenciar a variedade de produtos, a comodidade das horas e a permanência no sofá sem grande perda efetiva de acesso a grandes filmes ou séries.


(David Sipress, https://www.newyorker.com)

No que me toca, cá vou procurando resistir como posso a tais apelos e tentando deslocar-me às salas que ainda existem na Cidade (ou nas suas redondezas, especialmente em centros comerciais) e assim manter minimamente atualizada uma certa dose de informação e conhecimento sobre as novidades em estreia. O último fim de semana foi um dos que me permitiram que aproveitasse algum tempo disponível para tal e o respetivo saldo foi bem positivo, consubstanciado na presença em dois espetáculos: (i) o último trabalho realizado por Walter Salles (“Ainda Estou Aqui”), bastante badalado pelo merecido “Globo de Ouro” obtido por Fernanda Torres e nomeado para o “Óscar do Melhor Filme Estrangeiro”, que é um filme sério e notável a vários títulos, desde a sua filiação histórica adaptada à ficção por Marcelo Rubens Paiva às excelentes interpretações dos protagonistas (incluindo os jovens filhos do casal Paiva) ou às suas magníficas incursões pela zona sul do Rio de Janeiro ou pelos detalhes da vivência daquele início dos anos 70 (tão próximos dos que se registavam entre nós); (ii) o documentário biográfico, inconcebivelmente traduzido cá no Retângulo como “A Cantiga é uma Arma” a partir do original “I am a Noise”, sobre a mítica cantora norte-americana Joan Baez (agora já com 84 anos), percorrendo as principais fases da sua vida e carreira de um modo profundamente sincero e honesto que não omite algumas situações de natureza mais íntima e por vezes surpreendente (como a relação com Bob Dylan, que não sai especialmente bem-visto do relato, as cíclicas perturbações de disposição e ânimo da artista, a importância do seu compromisso com a justiça e a igualdade ou a sua difusa revisitação de uma infância que começa por ser tratada como normal e até feliz), ao que se acrescentam os excertos de canções icónicas ou simplesmente já guardadas no baú das memórias.

 

Finalmente: tendo confirmado pela enésima vez que a visualização em sala e grande ecrã tem outro encanto e que não devemos perder o que as empresas de exibição filmográfica ainda nos vão oferecendo de distintivo, aqui quero deixar assinalada a minha viva recomendação das duas obras atrás mencionadas.

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