(Estou por estes dias numa azáfama intensa de entrega de dois relatórios de avaliação em simultâneo, relatórios intermédios e não finais é certo, mas suficientemente densos e trabalhosos para consumir praticamente todo o meu tempo disponível e, além disso, ocupar-me a mente no que aos desafios deste blogue diz respeito. A Tabacaria Gomes em Caminha, onde compro jornais e revistas quando os momentos de lazer o permitem, é uma eterna surpresa em matéria de distribuição de revistas cosmopolitas. Há sempre uma novidade à nossa espera, como se aquela loja teimasse em manter as ligações daquela vila comercialmente em declínio, isso parece cada vez mais evidente, com o mundo mais urbano e com o universo das ideias. Foi assim este último fim de semana que surgiu no meu radar uma nova revista, a New Eastern Review, editada na cidade polaca de Wroclaw, uma revista bimensal com uma tiragem de 3.500 exemplares. Com o curto tempo disponível, que irá manter-se durante a presente semana, a revista despertou-me algumas considerações sobre a perda de conhecimento sobre a realidade política e social a leste da Europa e isso parece-me preocupante, já que tendemos a ignorar que a Europa não é apenas a Europa do Sul ou do Norte e que na Europa do Centro e do Leste acontecem coisas importantes, também elas relevantes para o futuro desta União cada vez mais interrogada.)
O início da leitura da revista fez-me relembrar que nos primeiros tempos do período democrático em Portugal nos interessava a experiência política polaca dos tempos do Solidariedade e do grupo de intelectuais que girava em torno do sindicato, com relevo para o intelectual Adam Michnik, hoje ainda editor, creio, de um jornal polaco que mantém o seu espírito crítico, a Gazeta Wyborcza. A experiência de resistência política sob o domínio soviético era um caso de estudo sobre o que significa intervir politicamente em condições muito adversas. Em grande medida, o conceito de “margens de transformação possível” tinha naquelas condições e sob a inspiração daquele grupo de intelectuais e, obviamente, também do Solidariedade de Walesa um contexto que era um efetivo teste a essas ideias de intervenção em contextos adversos.
Hoje, num contexto bastante diferente, o nosso conhecimento do que vai acontecendo por aquelas paragens é cada vez mais fragmentado e acessível apenas através da leitura de revistas como a New Eastern Europe.
Por isso posso dizer que ganhei o fim de semana. O cosmopolitismo da Gomes manifestou-se de novo. Conheci uma nova revista. Reconstituí condições de acesso a informação sobre a Europa de Leste política e social. E ganhei um tema para o blogue, o que nestas condições de azáfama de trabalho não é coisa pouca. Simbolicamente o tema da edição que comprei, a de novembro-dezembro de 2024 chama-se Idade da Incerteza. A propósito.
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