(São imagens impressionantes. Não sei mesmo se são menos impressionantes do que as da devastação que Gaza sofreu com a ofensiva israelita de retaliação pelo ataque inicial do Hamas. Mas assistir à entrada de milhares e milhares de palestinianos em direção à devastação a que praticamente todas as infraestruturas básicas de Gaza foram submetidas é algo que só pode ser compreendido no quadro de uma profunda e inabalável identidade daquele povo com aquela faixa reduzida de território. A imagem que o El País publica apresenta-nos uma longa faixa em frente ao Mediterrâneo com população palestiniana recentemente entrada a partir do sul, alguns dos quais em direção à parte norte do território, não uma população encurralada, mas por agora esperançada em alguns momentos de paz e em reencontrar o seu refúgio anterior aos rebentamentos e ataques. Depois de alguns dias de hesitação e espera, uma achega ao acordo de tréguas entre Israel e o Hamas, que permitirá a libertação de uma refém israelita Arbel Yehud reclamada pelo governo de Nethanyau e de mais alguns palestinianos, abriu a porta ao regresso que a imagem representa. Isto sem que Trump ensaiasse ainda a pressão sobre o Egito e a Jordânia para acolher esta massa de gente, que não teve resultado algum. Como explicar esta caminhada para o encontro com a devastação? Só uma profunda identificação com um território exíguo que representa uma variável de aproximação remota à terra prometida pode explicar este estranho regresso. Movimento claramente mais espontâneo do que a encenação bélica coreografada pelo Hamas para documentar a entrega das reféns israelitas e demonstrar que a sua força militar ainda existe e não foi totalmente dizimada).
Destas imagens retiro a conclusão de que nem a força das armas e das bombas, a dimensão expressiva da devastação e a magnitude do número de mortes observadas em Gaza foram suficientes para afastar esta gente que agora regressa ao seu símbolo territorial identitário, por mais exíguo que ele seja e por mais desprovido de infraestruturas e serviços básicos que se encontre e que neste momento possam ser oferecidos aquela população.
Dando como certo que o apego israelita à sua terra não é menos identitário, e embora descontado o aproveitamento indecente da situação de guerra para expandir colonatos ilegais na Cijordânia, que uma governação internacional decente, mas inexistente, reporia nos limites anteriores ao ataque do Hamas, nada melhor do que esta observação nos permite compreender a importância do que muitos já consideram ser a miragem dos dois Estados. Porque só a garantia de estabilidade dos territórios de acolhimento desses dois Estados, o de Israel e o da Palestina, permitirá conter as hostilidades, não certamente suscetível de resolver ódios e incompreensões profundos, tanto mais densos quanto mais os períodos em que as armas falam mais alto, mas pelo menos capaz de assegurar tréguas nesse enfrentamento e o lançamento de bases para que as necessidades básicas sejam de novo respostas.
O movimento de todo este regresso tem uma força simbólica tremenda.
Para memória futura em 27 de janeiro de 2025.
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