(Com as desculpas necessárias pela ausência dos últimos dias, que se prende com um início terrível de 2025 em termos de entregas de trabalhos profissionais, aproxima-se rapidamente a tomada de posse de Trump, confirmando um pesadelo que não julgávamos suscetível de repetir-se. Em contraste absoluto com os incidentes do Capitólio que se seguiram ao não reconhecimento por Trump da vitória de Biden, a transmissão de poder para Trump está a ocorrer pacificamente com os Democratas a revelarem nessa matéria um comportamento exemplar. Mas à medida que a chegada ao poder de Trump vai ficando cada vez mais próxima, a sociedade americana não deixa de nos surpreender, antecipando contradições sobre as quais não se faz a mínima ideia como a nova administração as irá enfrentar. Entre os materiais diversos que me têm chegado está uma informação que me despertou imensa curiosidade e que mede o modo como evoluiu ao longo do tempo a confiança dos americanos. Essa informação é de facto sugestiva pois revela uma desconfiança generalizada relativamente à maioria das instituições, com uma surpresa no seio de tanta desconfiança.)
O diagrama que abre este post é particularmente claro quanto à diversidade de instituições relativamente às quais a confiança dos americanos ou se perdeu ou está em queda manifesta. O Congresso, os grandes grupos empresariais, os jornais, a Presidência, o Supremo Tribunal e a Igreja e instituições associadas apresentam uma significativa queda de confiança com o indicador a revelar um comportamento de declive acentuado. As únicas instituições que escapam a essa tendência são o sistema de saúde e os militares, ambos com estagnação de confiança ou ligeira queda e o único grupo que melhora a sua posição é o universo das pequenas empresas.
Não é de modo algum fácil encaixar estes dados com a América polarizada praticamente dividida em duas. Antecipando o que será provavelmente a disrupção governativa que irá marcar o consulado de Trump, poderemos ainda assim antecipar que Trump irá apoiar-se em muitas das instituições que revelam esta significativa quebra de confiança. O que adensa a imprevisibilidade associada à mudança política na administração americana.
Aliás, tudo indica que muitas medidas anunciadas por Trump no plano económico, como por exemplo a ameaça de aplicação de direitos aduaneiros pesados às importações mexicanas como castigo pela principal origem do fenómeno migratório, vão traduzir-se em quebras assinaláveis de bem-estar de muitas das populações que votaram Trump. Será esse o caso, como o assinala Adam Tooze, com os automóveis mais baratos importados do México que são bastante populares no consumo de parte da sociedade americana.
Ou seja, a confusão será muita, mas o que é isso para o slogan MAGA?
Ou muito me engano, ou a sociedade americana, se a seguirmos com atenção, vai-se transformar numa espécie de teste de experimentação interpretativa do irracional.
É isso que vamos ter.
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