terça-feira, 7 de janeiro de 2025

A AMÉRICA QUE TRUMP VAI DIRIGIR

 

(Com as desculpas necessárias pela ausência dos últimos dias, que se prende com um início terrível de 2025 em termos de entregas de trabalhos profissionais, aproxima-se rapidamente a tomada de posse de Trump, confirmando um pesadelo que não julgávamos suscetível de repetir-se. Em contraste absoluto com os incidentes do Capitólio que se seguiram ao não reconhecimento por Trump da vitória de Biden, a transmissão de poder para Trump está a ocorrer pacificamente com os Democratas a revelarem nessa matéria um comportamento exemplar. Mas à medida que a chegada ao poder de Trump vai ficando cada vez mais próxima, a sociedade americana não deixa de nos surpreender, antecipando contradições sobre as quais não se faz a mínima ideia como a nova administração as irá enfrentar. Entre os materiais diversos que me têm chegado está uma informação que me despertou imensa curiosidade e que mede o modo como evoluiu ao longo do tempo a confiança dos americanos. Essa informação é de facto sugestiva pois revela uma desconfiança generalizada relativamente à maioria das instituições, com uma surpresa no seio de tanta desconfiança.)

O diagrama que abre este post é particularmente claro quanto à diversidade de instituições relativamente às quais a confiança dos americanos ou se perdeu ou está em queda manifesta. O Congresso, os grandes grupos empresariais, os jornais, a Presidência, o Supremo Tribunal e a Igreja e instituições associadas apresentam uma significativa queda de confiança com o indicador a revelar um comportamento de declive acentuado. As únicas instituições que escapam a essa tendência são o sistema de saúde e os militares, ambos com estagnação de confiança ou ligeira queda e o único grupo que melhora a sua posição é o universo das pequenas empresas.

Não é de modo algum fácil encaixar estes dados com a América polarizada praticamente dividida em duas. Antecipando o que será provavelmente a disrupção governativa que irá marcar o consulado de Trump, poderemos ainda assim antecipar que Trump irá apoiar-se em muitas das instituições que revelam esta significativa quebra de confiança. O que adensa a imprevisibilidade associada à mudança política na administração americana.

Aliás, tudo indica que muitas medidas anunciadas por Trump no plano económico, como por exemplo a ameaça de aplicação de direitos aduaneiros pesados às importações mexicanas como castigo pela principal origem do fenómeno migratório, vão traduzir-se em quebras assinaláveis de bem-estar de muitas das populações que votaram Trump. Será esse o caso, como o assinala Adam Tooze, com os automóveis mais baratos importados do México que são bastante populares no consumo de parte da sociedade americana.

 Ou seja, a confusão será muita, mas o que é isso para o slogan MAGA?

Ou muito me engano, ou a sociedade americana, se a seguirmos com atenção, vai-se transformar numa espécie de teste de experimentação interpretativa do irracional.

É isso que vamos ter.
 

Sem comentários:

Enviar um comentário