(Ninguém nega que a agressão brutal do Hamas no sul de Israel ajudou a desencadear a desproporcionada e mais do que brutal agressão israelita ao território de Gaza e os despudorados ataques ao território da Cijordânia com o objetivo de alargar a presença dos colonatos israelitas. Ninguém também ignora o horror sentido pela população israelita naquela noite e o sofrimento que tal operação provocou nas populações que foram objeto dessa selvajaria. Assumido esse pressuposto de que o atentado do Hamas terá sido perpetrado e concebido com grande preparação, tirando partido de quebras de segurança óbvias do lado israelita, ninguém que se considere uma pessoa decente e com sentido de justiça pode fechar os olhos à devastação cruel, ao genocídio declarado da população Palestina que a invasão do território de Gaza perpetrou, sem qualquer respeito pela existência daquele Povo martirizado e também pela comunidade internacional. Há dias, um pouco antes do início das tréguas no conflito, tão frágeis que designá-lo de acordo de paz é extremamente bondoso, apesar da alegria incontida da população que restou em Gaza, dei de caras com uns números que comparavam os mortos do lado de Israel com os do lado palestiniano. Sem citar aqui os números rigorosos eles apontavam para a escala dos mil do lado israelita e mais de quarenta mil do lado palestiniano. Ou seja, uma relação de 1 para 40, aproximadamente. Dei comigo a pensar nessa desproporção e daí a referida devastação na desigualdade …)
A relação atrás referida mostra que, objetivamente, foi necessário mais de 40 vezes o número de mortes de palestinianos relativamente aos vividos por Israel para gerar a ocorrência de tréguas e criar condições para uma ajuda humanitária de curto prazo. Esta desigualdade é brutal e imoral, mostrando que o valor da morte de um israelita e de um palestiniano não é o mesmo, contrariando o princípio da decência humana.
Aliás, quem olhar com atenção para a devastação quase total do território de Gaza rapidamente conclui que provavelmente o número de perdas palestinianas estará estimado por defeito, tamanha é a destruição que as imagens disponíveis nos mostram de forma cruel. Porém, não é totalmente claro que, embora decapitado nas suas principais chefias, o Hamas tenha sido aniquilado como as forças israelitas pretendiam. E perante a brutalidade e violência da invasão israelita, é bem provável que novos militantes estejam em formação, transformando o conflito em algo que não terá fim definitivo.
A destruição do território de Gaza e as consequências da guerra sobre o da Cijordânia, ainda ontem, já com as populações a festejar em Gaza, um atentado israelita matava mais um conjunto de pessoas nesse território, sabe-se lá com que argumento, vêm atribuir à tese dos dois Estados um significado algo macabro. Não é difícil imaginar o período bastante longo que será necessário para reconstituir em Gaza algo que se assemelhe a um território com condições de vida e a consolidação em extensão dos colonatos israelitas de todo ilegal face aos acordos existentes coloca um problema adicional, atiçando o conflito.
Abre-se, assim, um longo interregno até que seja credível a diplomacia regressar ao tema dos dois Estados e nesse interregno o elefante na sala que Trump representa vai introduzir no processo ainda mais instabilidade. Tendo em conta que a posição europeia na condenação do genocídio perpetrado sobre a população palestiniana deixou bastante a desejar, com os alemães a espiar culpas do passado, abre-se um período terrível para a população palestiniana que não terá do lado ocidental uma defesa moralmente decente.
Até que as tais condições mínimas de vida possam ser recuperadas, mesmo numa estimativa bondosa de que as tréguas se transformarão em acordo de paz, a tese dos dois Estados será conversa mole e de reduzido interesse imediato para a população palestiniana.
Mas quem organizará e poderá liderar a reconstrução?
Aceitará Israel o regresso da ONU a um papel mais ativo nesse processo?
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