quinta-feira, 1 de novembro de 2018

AS POLÍTICAS DE COESÃO PERCEBIDAS PELOS CIDADÃOS



(Roberta Capello e Giovanni Perucca acabam de publicar no número de Novembro da Regional Studies um importante artigo que pode marcar uma viragem importante no modo de análise das políticas de coesão europeias. O objetivo do artigo consiste em fazer integrar na análise não só a perceção dos cidadãos mas também o contexto politico local da sua implementação. É uma abordagem promissora e as políticas de coesão (PC) estão a precisar de outros olhos para justificar a sua existência.)

Creio que já me referi neste blogue ao desvio enorme existente entre o olhar crítico a que as PC estão sujeitas na União Europeia e o modo como são vistas em Portugal. A principal razão decorre do facto das PC estarem por cá a submeter as políticas públicas a uma perigosa dependência dos Fundos Estruturais, substituindo-se não só em recursos financeiros mas também em instrumentos que deveriam ser objeto de intervenção do orçamento geral do Estado e que não o são. Esta dependência é tão abusiva em alguns domínios que não é difícil adivinhar perigosas tormentas de escolhas públicas quando os Fundos Estruturais começarem a desacelerar em Portugal.

Nos últimos tempos, o olhar sobre os resultados das PC é mais atento e tem exigido avaliações mais rigorosas (em algumas das quais tenho tido o privilégio de participar, embora estejam a transformar-se em exercícios penosos e de recolha também penosa de informação). Poderá dizer-se que o artigo de Roberta Capello (uma força da natureza como a vi em alguns seminários da Regional Studies Association) e de Gionanni Perucca (ambos do Departamento de Arquitetura do prestigiado Politécnico de Milão) se insere nesta onda de uma profunda visão sobre as PC. Mas o que o artigo traz de novo é o olhar sobre estas políticas em função de dois elementos que do meu conhecimento não tinham ainda sido combinados: o contexto político local em que as políticas são implementadas e o modo como os cidadãos percebem essas mesmas políticas. Já estamos a antever por este enunciado dificuldades de operacionalização conceptual e de medida destas duas dimensões, mas o artigo propõe uma abordagem global integrando essas dificuldades.

Abordaremos o artigo em dois posts.

As condições de implementação das PC são equacionadas em função de dois conceitos: o de sensibilidade (grau em que em cada região uma dada política é necessária e desejável para a resolução dos seus problemas; o de recetividade, que reflete não só a qualidade institucional das instituições percebida pelos cidadãos e a proximidade aos valores europeus. Em ambas as dimensões existem elementos subjetivos e objetivos, como resulta do quadro abaixo elaborado pelos próprios autores.



A abordagem de Capello e Perucca desenvolve-se através da combinação destas duas dimensões, dando origem a seis categorias parcelares (três para a sensibilidade e outras três para a recetividade).

Na sensibilidade, os autores propõem três categorias:

  • Política apropriada: objetivos claros para uma dada política independentemente do modo como tais necessidades são percebidas pelos cidadãos residentes;
  • Política oportunista: uma necessidade é percebida mas a região carece de objetivos claros;
  • Política não solicitada: as necessidades reais e percebidas não estão associadas a um certo tipo depolítica.
Na recetividade, mais três categorias são propostas:


  • Um contexto institucional ideal: boa perceção da qualidade das instituições e forte identificação com os valores europeus;
  • Um contexto eurocético: a qualidade das instituições é boa mas não há identificação com os valores europeus;
  • Um contexto institucional ineficiente: a eficiência dos governos locais é baixa.
A combinação de todas estas categorias permite identificar 9 categorias de contextos de implementação de políticas de coesão:



Como poderemos medir e aplicar a Portugal?

É tema de outro post.



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