sexta-feira, 9 de novembro de 2018

MAS AFINAL QUAL É A AMÉRICA REAL?

New York Times - Apoiantes de Abigail Spamberger, com mais um lugar Democrata para o Congresso ganho na Virgínia)


(Depois de uma desoladora discussão das eleições americanas na Quadratura do Círculo e da pobreza franciscana da cobertura que a imprensa nacional lhes dedicou, resta ir acrescentando sucessivas notas de leitura à medida que nova informação e novas análise vão emergindo. Paul Krugman traz na sua coluna de opinião no New York Times uma perspetiva interessante, também para compreender as raízes do populismo latente.)

O contraste entre os resultados das eleições americanas para o Congresso e para o Senado acabou por ser o facto mais marcante anotado pela comunicação social. A verdade é que as duas eleições não eram comparáveis. A eleição para o Congresso Implicava uma renovação total do mesmo, ao passo que para o Senado estava em jogo apenas cerca de um terço dos lugares. Para além disso, os lugares do Senado que foram a votos correspondiam a Estados pró-Trump. Mesmo assim, é praticamente impossível rejeitar a comparação. Os Democratas ganharam o Congresso, os Republicanos (plebiscito de Trump) reforçaram no Senado, ganhando dois lugares aos Democratas. A direita politicamente correta (e Jorge Coelho na Quadratura) foi nesta interpretação que pegou. Por não serem realmente comparáveis, a tendência é desvalorizar a vitória Democrata.

Por hoje e seguindo a pista interpretativa de Krugman (link aqui), duas Américas pronunciaram-se em sentido diverso, uma deu a vitória aos Democratas e outra aos Republicanos, leia-se sustentaram a prosápia e o desplante Trumpiano. Resta saber que Américas são estas e qual é a América real?

A interpretação de Krugman é que o confronto se deu entre a América metropolitana (quem vive em áreas com mais de um milhão de pessoas, cerca de 60% da população ou quem vive em áreas com mais de 500.000 pessoas, mais de 70%) e a América rural e das pequenas cidades. O problema é que para o Congresso um indivíduo vale um voto ao passo que para o Senado a cada Estado corresponde um senador por maior que seja a diferença entre o seu potencial demográfico. Ou seja as eleições para o Senado equilibram, ao passo que para o Congresso os resultados refletem os sistemas de valores e de aspirações da América metropolitana. O sistema eleitoral americano tem deste tipo de equilíbrios e como se sabe Trump só ganhou a Presidência com cerca de menos 2 milhões de votos porque o sistema eleitoral favorece os Estados mais pequenos numa perspetiva de coesão dos interesses. Quer isto dizer que o sistema eleitoral americano tem uma válvula de escape para os sentimentos das populações que não partilham as dinâmicas urbanas, que acaba por ser o Senado.

Mas Krugman não hesita em considerar que a América real é a metropolitana e a mais diversa cultural e racialmente e, obviamente, a menos homogeneamente branca e a mais qualificada. Por outras palavras, a América dos Senadores não corresponderá à verdadeira América, portadora de mudança. Com sistemas eleitorais diversos, este “divide” territorial esteve também presente no BREXIT, com a cosmopolita e pujante área de Londres a votar expressivamente pelo REMAIN. É uma fratura perigosa, que a América do Senado, com os Republicanos cada vez mais presos na armadilha TRUMP, vai com o seu poder minar, por exemplo, tudo o que será sistema judicial.

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