New York Times - Apoiantes de Abigail Spamberger, com mais um lugar Democrata para o Congresso ganho na Virgínia)
(Depois de uma desoladora discussão das eleições americanas
na Quadratura do Círculo e da pobreza franciscana da cobertura que a imprensa
nacional lhes dedicou, resta ir acrescentando sucessivas notas de leitura à medida
que nova informação e novas análise vão emergindo. Paul Krugman traz na sua coluna de opinião no New
York Times uma perspetiva interessante, também para compreender as raízes do
populismo latente.)
O contraste entre os resultados das eleições americanas para o Congresso e
para o Senado acabou por ser o facto mais marcante anotado pela comunicação
social. A verdade é que as duas eleições não eram comparáveis. A eleição para o
Congresso Implicava uma renovação total do mesmo, ao passo que para o Senado estava
em jogo apenas cerca de um terço dos lugares. Para além disso, os lugares do Senado
que foram a votos correspondiam a Estados pró-Trump. Mesmo assim, é praticamente
impossível rejeitar a comparação. Os Democratas ganharam o Congresso, os
Republicanos (plebiscito de Trump) reforçaram no Senado, ganhando dois lugares
aos Democratas. A direita politicamente correta (e Jorge Coelho na Quadratura)
foi nesta interpretação que pegou. Por não serem realmente comparáveis, a tendência
é desvalorizar a vitória Democrata.
Por hoje e seguindo a pista interpretativa de Krugman (link aqui), duas Américas pronunciaram-se
em sentido diverso, uma deu a vitória aos Democratas e outra aos Republicanos,
leia-se sustentaram a prosápia e o desplante Trumpiano. Resta saber que Américas
são estas e qual é a América real?
A interpretação de Krugman é que o confronto se deu entre a América metropolitana
(quem vive em áreas com mais de um milhão de pessoas, cerca de 60% da população
ou quem vive em áreas com mais de 500.000 pessoas, mais de 70%) e a América
rural e das pequenas cidades. O problema é que para o Congresso um indivíduo
vale um voto ao passo que para o Senado a cada Estado corresponde um senador
por maior que seja a diferença entre o seu potencial demográfico. Ou seja as
eleições para o Senado equilibram, ao passo que para o Congresso os resultados
refletem os sistemas de valores e de aspirações da América metropolitana. O sistema
eleitoral americano tem deste tipo de equilíbrios e como se sabe Trump só ganhou
a Presidência com cerca de menos 2 milhões de votos porque o sistema eleitoral
favorece os Estados mais pequenos numa perspetiva de coesão dos interesses. Quer
isto dizer que o sistema eleitoral americano tem uma válvula de escape para os sentimentos
das populações que não partilham as dinâmicas urbanas, que acaba por ser o Senado.
Mas Krugman não hesita em considerar que a América real é a metropolitana e
a mais diversa cultural e racialmente e, obviamente, a menos homogeneamente
branca e a mais qualificada. Por outras palavras, a América dos Senadores não
corresponderá à verdadeira América, portadora de mudança. Com sistemas
eleitorais diversos, este “divide” territorial esteve também presente no BREXIT,
com a cosmopolita e pujante área de Londres a votar expressivamente pelo
REMAIN. É uma fratura perigosa, que a América do Senado, com os Republicanos
cada vez mais presos na armadilha TRUMP, vai com o seu poder minar, por
exemplo, tudo o que será sistema judicial.
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