domingo, 11 de novembro de 2018

BARRY EICHENGREEN E DANI RODRIK



(Este blogue está focado em contribuir para a disseminação de ideias para uma explicação credível do fenómeno populista autoritário e ação política consequente. É natural por isso que se dedique mais atenção a autores que têm produzido coisas relevantes sobre a matéria.)

Barry Eichengreen e Dani Rodrik são dois economistas frequentemente citados neste espaço. A eles, entre outros, se deve investigação relevante para compreender o problema político do nosso tempo. O primeiro porque tem sido um dos mais lúcidos intérpretes do que se passou efetivamente em 2008 e porque recentemente escreveu uma das obras mais profundas sobre o tema do populismo, fazendo-o do ponto de vista económico. O segundo emergiu como um dos mais sérios críticos reformistas da globalização, tendo percebido com grande antecedência os riscos de um recuo no avanço da globalização e por essa via compreendeu primeiro do que outros que essa tenderia a ser fonte de insatisfação popular passível de captura por discursos populistas. Ambos partilham a sábia convicção de que ser um economista académico não o dispensa da intervenção fundamentada na sociedade, na opinião pública e no debate crítico democrático.

Ambos publicaram recentemente no PROJECT SYNDICATE crónicas (links aqui e aqui) que podemos associar ao já longo rol de contributos do pensamento económico (da tal elite que os populistas eufóricos tanto odeiam) que divulgamos neste espaço.

Eichengreen, na esteira do seu último livro, aqui referenciado neste blogue, THE POPULIST TEMPTATION (Oxford University Press, 2018), escreve sobre o denominador comum do populismo, focando-se na corrupção do processo político como o fator agregador de eleitores à procura de um outsider. A ideia é que essa procura se concretiza segundo o modelo de “quanto mais autoritário melhor” para fazer face às limpezas que o eleitorado que pede sangue exige. Tenho dúvidas de que TRUMP tivesse essa imagem de esterilizador da corrupção, pois a sua atividade anterior não está tão totalmente afastada dessa vertente como se julga. De qualquer modo, o que importa realçar na mensagem de Eichengreen é que a entrega da função de limpeza a uma personalidade autoritária que não hesitará em usar as margens de manobra desta para a posteriormente domesticar e interromper só aparentemente suprime o problema da corrução. Tenderá a criar, pelo contrário, novas clientelas.

Por sua vez, a crónica de RODRIK (Reclaiming Community) situa-se nas condições de vida locais e comunitárias (famílias, empregos, escolas, espaços públicos, segurança e identidade) como um complemento crucial da dicotomia ESTADO versus MERCADO. Uma espécie de terceiro pilar, não menos importante do que o ESTADO ou o MERCADO, emerge como um fator crucial da qualidade de vida dos indivíduos. Flexibilidade dos mercados de trabalhos (MERCADO) que induzirá por parte dos trabalhadores a procura de mercados de trabalho mais atrativos ou políticas sociais corretivas (ESTADO são o que habitualmente as políticas mais tradicionais, respetivamente de direita e de esquerda, tendem a produzir para responder a choques impostos pela globalização. O que o terceiro pilar sugerido por Rodrik nos diz é que as políticas não podem deixar de ser “place-based” para lograr atingir um equilíbrio entre as vias do MERCADO e do ESTADO. Ou seja, que o populismo também se combate com políticas públicas e projetos políticos mais sensíveis à coesão territorial e ao bem-estar da comunidades.

Sem comentários:

Enviar um comentário