(Este blogue está focado em contribuir para a disseminação
de ideias para uma explicação credível do fenómeno populista autoritário e ação
política consequente. É natural por isso que se dedique mais atenção a autores que têm produzido
coisas relevantes sobre a matéria.)
Barry Eichengreen e Dani Rodrik são dois economistas frequentemente citados
neste espaço. A eles, entre outros, se deve investigação relevante para compreender
o problema político do nosso tempo. O primeiro porque tem sido um dos mais lúcidos
intérpretes do que se passou efetivamente em 2008 e porque recentemente escreveu
uma das obras mais profundas sobre o tema do populismo, fazendo-o do ponto de
vista económico. O segundo emergiu como um dos mais sérios críticos reformistas
da globalização, tendo percebido com grande antecedência os riscos de um recuo
no avanço da globalização e por essa via compreendeu primeiro do que outros que
essa tenderia a ser fonte de insatisfação popular passível de captura por
discursos populistas. Ambos partilham a sábia convicção de que ser um economista
académico não o dispensa da intervenção fundamentada na sociedade, na opinião pública
e no debate crítico democrático.
Ambos publicaram recentemente no PROJECT SYNDICATE crónicas (links aqui e aqui) que podemos associar
ao já longo rol de contributos do pensamento económico (da tal elite que os
populistas eufóricos tanto odeiam) que divulgamos neste espaço.
Eichengreen, na esteira do seu último livro, aqui referenciado neste blogue,
THE POPULIST TEMPTATION (Oxford University Press, 2018), escreve sobre o denominador
comum do populismo, focando-se na corrupção do processo político como o fator agregador
de eleitores à procura de um outsider.
A ideia é que essa procura se concretiza segundo o modelo de “quanto mais
autoritário melhor” para fazer face às limpezas que o eleitorado que pede
sangue exige. Tenho dúvidas de que TRUMP tivesse essa imagem de esterilizador
da corrupção, pois a sua atividade anterior não está tão totalmente afastada dessa
vertente como se julga. De qualquer modo, o que importa realçar na mensagem de
Eichengreen é que a entrega da função de limpeza a uma personalidade autoritária
que não hesitará em usar as margens de manobra desta para a posteriormente
domesticar e interromper só aparentemente suprime o problema da corrução. Tenderá
a criar, pelo contrário, novas clientelas.
Por sua vez, a crónica de RODRIK (Reclaiming
Community) situa-se nas condições de vida locais e comunitárias (famílias,
empregos, escolas, espaços públicos, segurança e identidade) como um
complemento crucial da dicotomia ESTADO versus MERCADO. Uma espécie de terceiro
pilar, não menos importante do que o ESTADO ou o MERCADO, emerge como um fator crucial
da qualidade de vida dos indivíduos. Flexibilidade dos mercados de trabalhos
(MERCADO) que induzirá por parte dos trabalhadores a procura de mercados de trabalho
mais atrativos ou políticas sociais corretivas (ESTADO são o que habitualmente as
políticas mais tradicionais, respetivamente de direita e de esquerda, tendem a produzir
para responder a choques impostos pela globalização. O que o terceiro pilar
sugerido por Rodrik nos diz é que as políticas não podem deixar de ser “place-based” para lograr atingir um
equilíbrio entre as vias do MERCADO e do ESTADO. Ou seja, que o populismo também
se combate com políticas públicas e projetos políticos mais sensíveis à coesão
territorial e ao bem-estar da comunidades.
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