(Em post anterior, dei conta que os resultados eleitorais
obtidos pelos Democratas nas eleições intercalares americanas tenderão a
exacerbar o debate entre progressistas socialistas e moderados. Houve vitórias e derrotas para todos os gostos. Mas
há uma outra frente em que os Democratas precisam de clarificação urgente: que atitude
e posicionamento assumir face ao estilo e ao modo de fazer as coisas de Trump?)
Ezra Klein, um dos mais perspicazes jornalistas americanos, conta no VOX (link aqui) que
inquirições a votantes para a Câmara dos Representantes (vulgo Congresso),
eleição que deu a vitória aos Democratas, permitiram concluir que: (i) a
maioria dos votantes considera que a chamada investigação Mueller (de grande
preocupação para Trump) tem mais motivos políticos do que justificação relevante;
(ii) a maioria opõe-se a um eventual “impeachment”de
Trump; (iii) 33% dos votantes considera as suas políticas imigratórias corretas,
17% defende que deveriam ser reforçadas e apenas 46% admite que Trump foi longe
de mais. Estes números são impressionantes sobretudo porque se trata de
votantes numa eleição que os Democratas ganharam com clareza.
O artigo de Klein desenvolve sobretudo duas atitudes predominantes (não necessariamente
alternativas) que os Democratas poderão assumir.
Uma atitude possível é a do confronto e investigação direta ao mundo de
irregularidades, falcatruas fiscais e comprometimento em processos pouco
respeitáveis como a das ingerências russas nas eleições que o levaram à Presidência
dos EUA. Este é o circo em que Trump se movimenta como peixe na água ou animal
que não necessita de domador para as suas habilidades. Trump usa a velha tática
de contrapor a uma denúncia de irregularidade ou de escândalo uma decisão ainda
mais controversa e desregrada. Temos o exemplo do despedimento do Procurador-Geral
Jeff Sessions e a sua substituição por um cão de fila e a cena da conferência de
imprensa com a expulsão do jornalista da CNN com o desplante de publicação de
um vídeo manipulado. Com isto terá conseguido abafar a sua derrota no
Congresso. Os Democratas terão a tentação de utilização da sua maioria no
Congresso para conduzir este combate, mas reduzir o seu posicionamento face a
Trump a este comportamento dificilmente lhe trará grandes resultados. É nesse campo
que o seu adversário gosta de jogar.
Klein apoia-se noutros observadores do comportamento de Trump para concluir
que a sua principal incapacidade reside no entendimento das políticas públicas.
Por isso, o grande desafio que os Democratas enfrentam é o de serem capazes de
colocar na agenda política e mediática a questão de políticas públicas tais como,
por exemplo, a expansão do Medicare. É nesse campo que Trump se movimenta mal,
pois é impreparado e inculto e não domina a essência dos temas.
Terão os Democratas o talento para discernir entre estas duas atitudes e posicionamentos
face a Trump, não abandonando o primeiro mas não se limitando ao combate num
campo que o seu adversário domina melhor? Será que o combate interno entre o
progressismo de pendor socialista e a moderação social-democrata perturbará
essa lucidez de posicionamento?
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