(O tema é demasiado importante para o largar com
facilidade. Em linha com Simon Wren-Lewis no Mainly Macro (link aqui), uma das vozes mais consistentes
contra a aberração da austeridade no Reino Unido, ficam mais duas citações do
relatório Alston. Apenas
duas citações para registar a importância do relatório.)
Aqui vão os excertos:
“Embora a disponibilização de segurança social aos que
precisam constitua um serviço público e uma âncora crucial para prevenir que as
pessoas caiam em situação de pobreza, as políticas que foram praticadas desde
2010 são regra geral discutidas sob a rubrica da austeridade. Mas este
enquadramento conduz-nos a uma direção errada. No domínio das políticas
relacionadas com a pobreza, a evidência leva-nos a concluir que a força
impulsionadora não tenha sido económica, mas antes um compromisso de concretizar
uma reengenharia social radical. Governos sucessivos trouxeram uma mudança
revolucionária quer no sistema que proporciona níveis mínimos de igualdade e justice
social aos Britânicos e especialmente nos valores que o suportam. Elementos-
chave do contrato social de Beveridge do pós- guerra estão a ser objeto de uma reviravolta.
No processo, alguns bons resultados foram certamente atingidos, mas uma grande
miséria foi desnecessariamente provocada, especialmente nos trabalhadores pobres,
nas mães solteiras que lutam contra poderosos fatores adversos, em pessoas com
deficiências que são já objeto de marginalização e em milhões de crianças que
estão a ser encerradas num ciclo de pobreza do qual muito dificilmente poderão
escapar”.
Sublinho “reengenharia social radical”, acrescentarei eu ditada por um
sentimento de superioridade e de casta.
E ainda um excerto mais direto:
“A compaixão Britânica por aqueles que estão a sofrer foi
substituída por uma abordagem punitiva, inspirada no princípio da demonstração
de recursos e frequentemente insensível aparentemente destinada a introduzir disciplina
onde ela é menos necessária, para impor uma ordem rígida às vidas dos menos
capazes de lidar com o mundo de hoje e estabelecer o objetivo de obrigar a uma
aceitação cega no que respeita a uma preocupação genuína horar o bem-estar dos
que se situam nos mais baixos níveis da sociedade Britânica”.
Sim, de facto, todas as tentativas que conheço de introduzir na política
social para os mais desfavorecidos condições sujeitas a demonstração de
recursos (as célebres políticas “means
tested”) geraram situações tremendas de injustiça e foram utilizadas como
primeiras ações para o desmantelamento de tais políticas.
Que seja um relatório das Nações Unidas a demonstrá-lo fica bem e está em
linha com a consciência social do seu Secretário –Geral. Um louvor por isso ao
relatório de Philip Alston.
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