Acontecem hoje as eleições intercalares nos Estados Unidos, as quais assumem uma importância maior do que o habitual na medida em que funcionarão como um sinal verde, amarelo ou vermelho em relação à prestação do presidente Donald Trump e à sua absolutamente extraordinária agenda, marcando assim necessariamente o sentido da segunda parte do mandato de Trump. A “The Economist” vaticinava ontem que “as duas câmaras do Congresso mover-se-ão provavelmente em direções opostas”. E explicava: “Na Câmara dos Representantes, onde todos os assentos estão à disposição, os Democratas ocupam o banco do motorista. O modelo estatístico da ‘The Economist’ (...) dá-lhes uma chance de 86% de obterem a maioria. Mas apenas 35 dos 100 assentos no Senado estão em disputa este ano; destes, apenas nove são detidos pelos Republicanos. Mesmo que muitos candidatos democratas em estados conservadores estejam a ser avaliados de modo surpreendentemente bom nas sondagens, (...) as chances dos Democratas conquistarem o Senado são estimadas em cerca de um em cada sete.”
O modelo eleitoral em presença é suficientemente complexo e cheio de incertezas para que aqui me debruce sobre a matéria em toda a sua profundidade. Prefiro apenas sublinhar que uma vitória dos Democratas na Câmara dos Representantes criará algumas dificuldades de monta ao exercício autoritário de Trump. Por maioria de razão, uma sua improvável vitória no Senado (ou melhor, uma vitória suficientemente significativa para ali inverter a relação de forças – e teriam de lograr 7 dos 9 lugares de estados avaliados como tossup – New Jersey, Florida, Indiana, Tennessee, Missouri, Texas, Arizona, Nevada e Montana) seria ouro sobre azul para que Trump ficasse ainda mais largamente manietado até ao final do seu mandato. Parece muita fruta, tanto mais quanto dominantemente proveniente de uma América profunda e pouco confiável, mas amanhã saberemos...
Entretanto, todos os media apontam as mulheres como o elemento mais dinâmico e diferenciador da campanha deste ano (num país em que só existem 23 e 84 elementos femininos entre os 100 senadores e os 435 congressistas, respetivamente). Cada articulista escolhe os casos e as narrativas que se lhe apresentam como mais interessantes no quadro de uma lógica comum que vai no sentido de uma hipotética feminilização (mais firmeza com mais suavidade) da política americana: o “Le Monde”, por exemplo, seleciona as quatro diferentes situações das democratas Amy McGrath no Kentucky (possível vitória em terreno adversário), Deborah Haaland no Novo México (eventual primeira índia americana no Congresso) e de Lauren Underwood no Illinois (uma negra em circunscrição maioritariamente branca), assim como da republicana Martha McSally no Arizona (a contas com a força do voto latino). Já o “El País” aponta seis mulheres (todas democratas) como protagonistas a seguir mais de perto: Stacey Abrams (que pode vir a tornar-se a primeira governadora afroamericana na Georgia), Alexandria Ocasio-Cortez (que pode vir a tornar-se a congressista mais jovem de Washington, aos 29 anos e após bater um peso-pesado do partido), Rashida Tlaib (que pode vir a tornar-se a primeira congressista muçulmana e de origem palestiniana no Michigan), Christine Hallquist (que se tornou a primeira candidata transgénero a governadora ao vencer as primárias democratas em Vermont), Mikie Sherrill (que pode vir a arrebatar um lugar de congressista que há mais de uma década é republicano em New Jersey) e Debbie Mucarsel-Powell (que ostenta origens latinas e pode vir a tornar-se decisiva para a decisão na Câmara se eleita na Florida). Quanto ao lado masculino, e apenas para não ser acusado de parcialidade, destaque para Bernie Sanders (que vencerá folgadamente em Vermont) e para Ted Cruz (que poderá ou não perder no Texas contra Beto O’Rourke). O resto, volto a sublinhar, fica para amanhã.
(Niels Bo Bojesen, https://www.cartoonmovement.com)
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