quarta-feira, 28 de novembro de 2018

LITERATURA DE AVIÁRIO


Apreciei sobremaneira a crítica de Mário Santos ao último embrulho literário do apresentador televisivo mais irritante da atualidade. Que começa assim: “Finalmente – após quase uma vintena de livros de ficção publicados pelo autor e não sei quantos milhões de exemplares vendidos em Portugal e no mundo –, convenceram-me a ler um romance de José Rodrigues dos Santos de fio a pavio.” E que explica deste eloquente modo o segredo do “sucesso” do dito: “(...) esta obra de Rodrigues dos Santos é ensopada de lugares-comuns, estereótipos, clichés, trivialidades. Tanto quanto ao tipo das peripécias narradas, como à sua focalização e, sobretudo, quanto à linguagem utilizada. É esse, aliás, o segredo da legibilidade imediata desta prosa. É como se o texto não existisse na página, como se a narração do romance o dispensasse. Vemos e ouvimos a ação, por assim dizer, mas não reparamos no texto.”

Pessoalmente, confesso que – ao contrário do crítico – não li as mais de 700 páginas, ademais “sem saltar uma”. Mas do que conheço da personagem autoral e do que já pude ir lendo, embora avulsamente, dos seus produtos ensalsichados, subscrevo com facilidade que “é obra”, mesmo, levar a cabo tal missão na íntegra, assim como tendo também a acreditar piamente na ideia de que “a leitura do romance em apreciação não sairia prejudicada (antes pelo contrário) com menos rigorosa e menos honesta abordagem”. A conclusão – “uma perda de tempo” – é de uma evidência cristalina, pena é que as nossas praias continuem a encher-se de damas e cavalheiros – talvez sejam mais elas do que eles – a passearem o calhamaço do ano respetivo e a dele lerem distraidamente três ou quatro páginas por dia antes ou depois do banho.

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