(Al-Haouz- Ourika)
(Sob o lema da diferença de proximidade, oportunidade
para uma incursão de algumas horas de mini-bus nas aldeias berberes das fraldas
do Atlas mais próximas de Marraquexe. “Mixed
feelings” de alguém que por natureza não gosta de invadir turisticamente a
pobreza, profunda.)
A imagem mais marcante que me fica destas seis a sete horas de incursão
pelas franjas do Atlas, com o degelo a proporcionar fios de água a rios -ribeiras
profundos em vales lindíssimos, é a de duas mulheres berberes, curvadas,
descendo por atalhos as encostas da montanha, com ramos de árvores e folhas nas
costas. É uma imagem crua de um prodígio de sobrevivência num território ameno
nesta altura do ano e terrível no pino do verão. Imagem bem mais crua do que as
casas de adobe adaptadas na paisagem, talvez igualmente crua do que a
informação do guia-condutor segundo a qual nas imediações de um todo um
território não existe um centro de saúde. Vi uma farmácia, fechada, não sei se
pelo dia, se para sempre, numa pequena localidade em que a escola colorida
esperava pelas crianças que se deslocam de grandes distância. Vi também dois
mini-autocarros escolares, amarelos e bem visíveis, não sei com que raio de
ação.
À medida que se desce para cotas mais baixas junto ao rio que vai recebendo
os efeitos do degelo nas montanhas com cumes ainda brancos emergem pequenas
aldeias turísticas, estruturadas em torno dos restaurantes que colocam as suas
esplanadas e mesas em pleno rio. Imagino que se possa almoçar ou simplesmente desfrutar
da frescura da água com os pés na água, já que cadeiras e sofás mantêm com o
fio de água uma proximidade tal que praticamente ocupam as margens do empedrado
do rio. Lá visitámos a casa berbere tradicional com moleiro e uma pedra
gigantesca, organizada para turista ver, em diferentes línguas, do espanhol ao
inglês. Nas ruas, os angariadores de todos os restaurantes e esplanadas,
incluindo guias para percursos de curta duração ou caminhadas mais longas pela
montanha, marcam os seus espaços, num equilíbrio de quando em vez interrompido
por uma disputa de maior vozearia, só isso, provavelmente determinada pelas
condições indefinidas de acordos prévios seja com os restaurantes, seja com os
turistas.
No meio desta realidade, um oásis de esperança alimentado pela presença de
algumas cooperativas envolvendo sobretudo mulheres que vão proporcionando
alguma organização e trabalho (visitámos a de Argan em torno de produtos
gerados a partir de plantas aromáticas, como produtos de beleza, e produtos
alimentares como o azeite. Valerá a pena saber de que modo estas cooperativas
estão a permitir alguma melhoria de condições a estas mulheres. Fico com a
impressão que existe em Marrocos e certamente em outros países da África do
Norte um vasto manancial de cooperação para a União Europeia. Os países de
proximidade como Marrocos devem merecer especial atenção pois tenderão a constituir
cada vez mais uma zona de transição para os mais profundos problemas da África
profunda.
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