domingo, 24 de março de 2019

ALDEIAS BERBERES …

(Al-Haouz- Ourika)


(Sob o lema da diferença de proximidade, oportunidade para uma incursão de algumas horas de mini-bus nas aldeias berberes das fraldas do Atlas mais próximas de Marraquexe. Mixed feelings” de alguém que por natureza não gosta de invadir turisticamente a pobreza, profunda.)

A imagem mais marcante que me fica destas seis a sete horas de incursão pelas franjas do Atlas, com o degelo a proporcionar fios de água a rios -ribeiras profundos em vales lindíssimos, é a de duas mulheres berberes, curvadas, descendo por atalhos as encostas da montanha, com ramos de árvores e folhas nas costas. É uma imagem crua de um prodígio de sobrevivência num território ameno nesta altura do ano e terrível no pino do verão. Imagem bem mais crua do que as casas de adobe adaptadas na paisagem, talvez igualmente crua do que a informação do guia-condutor segundo a qual nas imediações de um todo um território não existe um centro de saúde. Vi uma farmácia, fechada, não sei se pelo dia, se para sempre, numa pequena localidade em que a escola colorida esperava pelas crianças que se deslocam de grandes distância. Vi também dois mini-autocarros escolares, amarelos e bem visíveis, não sei com que raio de ação.

À medida que se desce para cotas mais baixas junto ao rio que vai recebendo os efeitos do degelo nas montanhas com cumes ainda brancos emergem pequenas aldeias turísticas, estruturadas em torno dos restaurantes que colocam as suas esplanadas e mesas em pleno rio. Imagino que se possa almoçar ou simplesmente desfrutar da frescura da água com os pés na água, já que cadeiras e sofás mantêm com o fio de água uma proximidade tal que praticamente ocupam as margens do empedrado do rio. Lá visitámos a casa berbere tradicional com moleiro e uma pedra gigantesca, organizada para turista ver, em diferentes línguas, do espanhol ao inglês. Nas ruas, os angariadores de todos os restaurantes e esplanadas, incluindo guias para percursos de curta duração ou caminhadas mais longas pela montanha, marcam os seus espaços, num equilíbrio de quando em vez interrompido por uma disputa de maior vozearia, só isso, provavelmente determinada pelas condições indefinidas de acordos prévios seja com os restaurantes, seja com os turistas.

No meio desta realidade, um oásis de esperança alimentado pela presença de algumas cooperativas envolvendo sobretudo mulheres que vão proporcionando alguma organização e trabalho (visitámos a de Argan em torno de produtos gerados a partir de plantas aromáticas, como produtos de beleza, e produtos alimentares como o azeite. Valerá a pena saber de que modo estas cooperativas estão a permitir alguma melhoria de condições a estas mulheres. Fico com a impressão que existe em Marrocos e certamente em outros países da África do Norte um vasto manancial de cooperação para a União Europeia. Os países de proximidade como Marrocos devem merecer especial atenção pois tenderão a constituir cada vez mais uma zona de transição para os mais profundos problemas da África profunda.

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