(Após várias tentativas goradas, eis que finalmente poderei
amanhã ouvir ao vivo Martha Argerich. Não a solo, porque isso é uma preciosidade
hoje reservada apenas para alguns eleitos, mas acompanhada de alguém muito próximo,
Stephen Kovacevich. A oportunidade surgiu na Gulbenkian, tenho pena que o encontro com a diva
do piano não aconteça na Casa da Música, mas não é coisa que não tenha já feito
no passado.)
Desta vez foi de vez. Precavi-me com tempo. Estive atento à abertura da venda
de bilhetes isolados depois de todas as assinaturas terem sido presenteadas. A
persistência e a muita vontade deu frutos.
O programa é exigente e tenho andado ocupado em ouvir versões já tocadas por
Arguerich noutras ocasiões e com outros companheiros de piano.
O concerto dedica a sua primeira parte exclusivamente às Danças Sinfónicas,
op. 45 de Sergei Rachmaninov, a última composição do compositor e virtuoso músico
russo, numa versão para dois pianos, já que foi inicialmente composta para
orquestra, estreada em Filadélfia, segundo o programa, em 3 de janeiro de 1941.
Para treinar o ouvido, valeu-me que a estante me proporcionou uma versão magnífica
gravada ao vivo em Salzburgo, em que Arguerich toca com com Nélson Freire, uma
dupla de luxo e na qual se sente que Martha Arguerich é feliz.
A segunda parte é dedicada a Debussy, prolongando o que considero ser um
programa muito difícil e exigente para alguém um pouco duro de ouvido. As obras
que segundo o programa serão tocadas serão: En blanc et noir, Lindaraja
e Prélude
à l’après-midi d’un faune. Para ir educando a sensibilidade e o ouvido recorri
às muitas gravações dos encontros de Lugano em que Argherich toca com os seus
amigos mais próximos. No Prélude à l’après-midi d’un faune Argherich
tocou-o em 2016 com a companhia precisamente de Stephen Kovacevich, creio que o
seu segundo marido. No En blanc et noir foram também os
Encontros de Lugano de 2015 que me satisfizeram a necessidade de praticar a audição,
e com o privilégio de ser tocado também com Stephen Kovacevich. Quanto ao Lindaraja
nem o programa me resolveu a curiosidade e a débil formação musical. Mas o
Google informa-me que Lindaraja é o nome de um terraço do Palácio Alhambra e que
Lindaraja é no fundo uma habanera que nos transporta para a ambiência daquele
Palácio.
O seu companheiro de palco não é um pianista qualquer, é um dos maiores entre
os pianistas vivos e não tocava na sala da Gulbenkian já há 12 anos.
Tudo se compõe para um início de noite de prodígio e de retribuição afetiva
para quem tanto esperou por este momento.
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