quarta-feira, 13 de março de 2019

E A EXPANSÃO CONTINUA!



(Perturbados com a boçalidade de Trump, não temos dado devida conta de que a economia americana está a poucos meses de ultrapassar a mais longa expansão de sempre, observada entre os meses de março de 1991 e 2001. Tempo para recordar a velha máxima dos ciclos económicos de que uma recessão pode ser sempre esperada, mas não sabemos nunca quando é que ela se manifesta.)

Antonio Fatas tem razão em despertar-nos para essa evidência (link aqui). A nossa memória é curta e em termos económicos também. Já não nos lembramos que, cerca de seis anos antes da queda do Lehman Brothers que haveria de precipitar e anunciar a grande recessão de 2007-2008, a economia americana terminava a mais longa expansão da sua história. Ora, nos tempos que correm está eminente a queda desse marco histórico e Fatas relembra-nos com pertinência que não há uma correlação evidente entre a duração das recessões e a probabilidade de ocorrência de uma recessão. Mas os tempos de hoje são diferentes, por mais irritante que seja bater essa tecla de que tudo é específico e diferente. Mas a verdade é que, perante uma expansão que na pior das hipóteses corre o risco de ser a segunda mais importante, muita gente se interroga como é que tem sido possível aguentar a proximidade prática a uma situação de pleno emprego e não vislumbrar na economia tensões inflacionistas fortes e ritmos mais elevados de crescimento dos salários?

O fenómeno cíclico é apaixonante e resistiu à chamada grande moderação macroeconómica em que muito boa gente, até com a chancela de ser Nobel, acreditou que a política monetária tinha finalmente domesticado o ciclo e moderado as suas exuberâncias mais ou menos irracionais. Mas não. Continua a evidência de que as expansões e recessões se sucedem com durações indeterminadas e, mais do que isso, nem uma longa duração nos diz quando a recessão irá ocorrer. Mas Fatas invoca investigação em sua ajuda e mostra que a economia americana “nunca conseguiu aguentar uma baixa taxa de desemprego (como agora se verifica, nota minha) sem evitar a geração de desequilíbrios que conduzem à próxima recessão”. E conclui com pertinência que “se a história constitui um indicador de uma futura crise e dado o baixo nível de desemprego então uma recessão estará ao dobrar a esquina”. Pois, será assim, mas não sabemos qual é a próxima esquina.

Mas há uma outra perplexidade assinalada por Gavyn Davies (link aqui), a quem tantas vezes tenho concedido espaço neste blogue. É que os mercados financeiros parecem pouco preocupados com os riscos de ocorrência de uma recessão no dobrar da próxima esquina. A longa expansão da economia americana ocorre em simultâneo com expectativas moderadas de crescimento a nível mundial e com revisões em baixa de perspetivas de crescimento. Neste contexto, há gente a interrogar-se sobre quanto mais tempo irá demorar a que os mercados financeiros comecem a antecipar os riscos de uma recessão?

Os tempos estão arriscados para previsões.

Será que tudo isto reflete um pano de fundo estrutural aberto com o pós Grande Recessão 2007-2008 e do qual não temos ainda a correta distância para melhor compreender os seus contornos?

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