sábado, 9 de março de 2019

TRUMP, O PARLAPATÃO



(À medida que os dados macro da economia americana vão sendo publicados, mais evidente se torna o falhanço da sua política económica. A evolução do défice comercial externo americano reflete o negativo do seu protecionismo económico e também a sua política de cortes de impostos para os mais ricos. Entretanto não consta que a sua base social de apoio eleitoral esteja em desagregação.)

Uma das reações possíveis à mais recente publicação dos dados do comércio externo de mercadorias e serviços da economia americana poderia ser a de “Trump ladra, ladra, mas não morde”. Todos nos recordamos como o presidente americano se apresentou como o grande defensor do “America first”. No plano económico, isso significava o regresso ao protecionismo, a agressividade contra a China, a recuperação da tradição industrial americana, as ameaças contra as empresas americanas que deslocalizavam a sua produção e não sei quantas mais diatribes comerciais.

Pois o comportamento do défice comercial externo americano nos últimos três anos (link aqui) o que nos permite visualizar é a contínua degradação dessa variável, calculado em dezembro de 2018 em 891,3 mil milhões de dólares. Aliás, o FMI estima que, reportada a 2016, a balança corrente americana (que inclui a balança de rendimentos) duplicará em 2022. E o que é mais curioso é que o défice comercial com a China não para de aumentar, cifrando-se também em dezembro de 2018 em 419,2 mil milhões de dólares, apesar dos impostos aduaneiros de 10 a 25% incidentes em cerca de 250 mil milhões de dólares de importações chinesas. É conhecido também o facto do défice público estar também a aumentar vertiginosamente na sequência das descidas de impostos que beneficiaram os mais ricos.

Os dados oficiais são incontornáveis e ninguém os discute.

E aqui chegamos ao mais preocupante. Como é que um discurso macroeconómico falso, que levou Trump à vitória, porque contraditado pelas evidências oficiais não produz efeitos de desagregação da base social de apoio eleitoral ao presidente americano. Já não estamos no domínio das fake news. Trata-se de propósitos e fanfarronices contraditados pelas evidências oficiais. Não são entretanto visíveis e notórios os efeitos de desagregação dessa base social de apoio. Ou a América profunda é mesmo estúpida ou talvez não estejamos a ver o filme com as lentes mais adequadas.

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