segunda-feira, 25 de março de 2019

MANUEL GRAÇA DIAS


O “Público” designa-o hoje, por ocasião da sua prematura morte, como “um dos mais ecléticos arquitetos portugueses da sua geração” – e tê-lo-á certamente sido. Fez o Pavilhão de Portugal na Expo de Sevilha, ajudou a construir essa Lisboa moderna que vamos redescobrindo à beira-rio, na Baixa ou no Bairro Alto e também deixou obra em Chaves, mas foi sobretudo um cidadão atento e participativo – quem não recorda os seus olhares sobre a Cidade, a pé ou ao volante? –, um combatente anti convenções de qualquer espécie e um amante da liberdade como valor acima de todos os outros. Já me cruzava com ele em muitos desses palcos antes de lhe ter comprado a nossa primeira propriedade lisboeta, ali à Rua das Praças onde ele habitava com a família um terceiro andar dividido em esquerdo e direito até se decidir a ficar-se por aquele e a pôr à venda este. Um dia, era ele gestor do condomínio, mandou pintar de cinzento as portas dos vários andares e teve de se defrontar com o conservadorismo da maioria dos vizinhos que impuseram o regresso ao castanho, sendo que o terceiro andar ainda hoje permanece no tom de cinzento por ele escolhido e a que nós aderimos com um cúmplice agrado. Um sincero lamento pela morte de mais um tipo decente e um sentido abraço ao Manel filho que tantas horas passou em nossa casa a curtir como então podia uma paixoneta adolescente pela nossa Eduarda...

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