(Junto-me com prazer ao meu colega de blogue para zurzir numa
das múmias mais resilientes da direita económica empresarial. Um indicador de que a mudança estrutural que repetidas
vezes antecipamos para a economia portuguesa não se concretiza à velocidade que
desejaríamos.)
Todos sabemos que o tecido empresarial português é bem diferente, para melhor
e para pior, do panorama que, diariamente mas principalmente nos semanários, a
comunicação social nos vai transmitindo, acolhendo desde as vozes de burro até
aos testemunhos mais consistentes. Mas há um irritante estrutural que permanece
e que consiste na sobrevivência pecaminosa de algumas personalidades, algumas
das quais já desde os ventos da consolidação constitucional do país, ou seja, há
mais de 40 anos. Ao pé desses exemplos de sobrevivência insalubre, se o Eládio
Clímaco permanecesse a apresentar o Festival da Canção tratar-se-ia de um
pequeno pecado que todos estaríamos prontos a branquear.
Há várias tipologias dessas múmias resistentes. Uma tipologia mais cabalística
e de contornos mais profundos é, por exemplo, a que o inenarrável Tomás Correia
do Montepio representa. De facto, por mais que sejamos homens ingénuos ou de
boa vontade prontos a dar a face ao adversário, ninguém duvida que por detrás
da resistência de Tomás Correia está uma rede de cumplicidades cuja configuração
pode ir do amiguismo bem português às mais tortuosas relações de encobrimento. A
lista de personalidades que apoiou a sua reeleição é toda ela uma caldeirada de
cumplicidades estranhas. A manutenção da personagem à frente do Montepio fere a
credibilidade de pessoas que pouco ou nada fazem para afastar a personalidade. Custa-me
que o ministro Vieira da Silva esteja a ser chamuscado em lume brando com todo
este enredo “avalias tu ou eu a idoneidade da personagem?”.
A múmia Pedro Ferraz da Costa pertence a uma outra tipologia de múmias
resilientes. Ele aparece sistematicamente a projetar as ideias da direita económica
empresarial mais troglodita por que lhe dão espaço e tempo de antena, por que
seria uma maçada encontrar alguém de ideias mais arejadas ou simplesmente porque
a nossa direita económica empresarial é incorrigível. Por isso digo que Ferraz é
o juiz Neto de Moura dessa direita económica.
Tenho para mim que uma espécie de tiro ao alvo destas múmias mais resilientes
e trogloditas poderia representar um desporto de grande alcance em termos de qualidade
do ar político que se respira em Portugal.
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