terça-feira, 8 de setembro de 2020

NA MORTE DO VICENTE

A notícia da morte do Vicente Jorge Silva caiu-me abruptamente no telemóvel, num daqueles curtos flashes que já quase nem damos conta de quanto invadem a nossa tranquilidade de cada dia. Não o sabia doente, tínhamos perdido o contacto que tivéramos aquando da minha estada em Lisboa, em jantares no Bairro Alto ou em convívios agradáveis e estimulantes (frequentemente na sua casa da Álvares Cabral) com grupos de amigos que incluíam gente como o Vital Moreira, a Maria Manuel, a Ana Gomes, o António Franco, o Jorge Wemans, o Luís Nazaré, o Francisco Seixas da Costa e vários outros personagens. Chegamos mesmo a discutir a hipótese de um blogue conjunto  o que era uma significativa inovação à época –, projeto que veio a nascer sem mim e que o Vital ainda hoje alimenta à sua estrita custa (“Causa Nossa”). Mas o Vicente, no meu imaginário de cidadão, é duas coisas que por si sós o tornam um referencial inesquecível: refiro-me ao “Comércio do Funchal”, o magnífico jornal cor-de-rosa que dirigiu nos tempos do fascismo (ainda hoje guardo religiosamente todos os exemplares da minha coleção, adquirida por assinatura e sempre recebida em casa dos meus pais com medo de alguma denúncia) e que muito ajudou à minha formação cívico-política, e à sua participação decisiva no nascimento do nosso principal diário de referência (o “Público”), do qual foi o primeiro diretor. Muitos falarão de outros factos igualmente associáveis ao Vicente, muitos certamente meritórios e marcantes. Ou da pessoa, generosa e apaixonada, que ele foi. Eu limito-me a um eterno obrigado ao Vicente pelo tanto que ele inconscientemente deixou em mim.

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