Kelly McGillis)
(Sabemos que há filmes menores que nos deixam marcas e que, por vezes, também, grandes filmes passam despercebidos na nossa voragem de ver mais coisas, sempre mais coisas. O Top Gun está nesse primeiro grupo e não será pelas coisas para muitos entusiasmantes dos pilotos e dos aviões de elite ou sequer por Tom Cruise que despontava. A marca tem um nome e um rosto, Kelly McGillis, cuja passagem pelo tempo é hoje o tema da croniqueta, aproveitando a informação de um excelente artigo do ICON do El País, link aqui)
Quando hoje visualizo o trailer baseado no Take my Breath Away (https://www.youtube.com/watch?time_continue=251&v=Bx51eegLTY8&feature=emb_title) e me concentro na melodia parece-me um exercício meloso nada empolgante, de gosto muito duvidoso. Mas, regressando aos caminhos da memória, e quando me projeto naquela entrada na sala de aula da instrutora Kelly McGillis ou nos seus cabelos loiros esvoaçando pelas avenidas largas com palmeiras gigantescas do litoral californiano percebo que, na altura, o Take my Breath Away não me soava a nada de meloso ou açucarado. O rosto e a figura de McGillis faziam para mim mais o filme do que as proezas das acrobacias mais arrojadas dos pilotos de elite que cruzavam os céus da Califórnia, junto à base de Miramar. Aquele rosto e aquela figura esbelta (com os famosos blusões de couro da Força Aérea que agora reconheço que gostaria de ter tido no meu guarda roupa) permaneceram durante longo tempo na memória, até porque as suas posteriores passagens pelo cinema deixaram-me poucas recordações e nem sequer vi o que foi dirigido por Abel Ferrara.
A passagem do tempo por McGillis foi madrasta e acabou por determinar o seu afastamento das telas, até ao seu refúgio de montanha (alto de una colina em Hendersonville, Carolina del Norte) e trabalho a tempo inteiro numa clínica para mulheres com comportamentos aditivos e dependentes de drogas), passando pela sua complicada vida sexual e problemática aceitação do seu lesbianismo. É um caso relativamente particular das passagens do tempo que me têm fascinado neste blogue. A passagem do tempo determinou um corte relativamente abrupto com a atividade, neste caso o cinema, outras passagens adiaram até ao fim esse corte (Catherine Deneuve, por exemplo).
Pela notícia do ICON percebe-se que Kelly estará em paz com a sua imagem de hoje com o seu sorriso travesso dos sessenta e isso é o que fundamentalmente importa. Sabe-se lá se o Take my Breath Away também lhe parecerá algo de anacronicamente meloso ou se uma ponta de nostalgia não atravessará aquela colina em Hendersonville.
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