sábado, 12 de setembro de 2020

DEPOIS NÃO SE QUEIXEM!

 

(ASDCAVIR)

(Não imagino que raio de racional ou desvario terá levado António Costa e Fernando Medina a integrarem a Comissão de Honra, este nome pelas bandas do futebol exigiria uma outra expressão, de Luís Filipe Vieira, no quadro das eleições para a presidência do SLB. Estou à vontade para expressar a minha perplexidade pela confusão que os cidadãos Costa e Medina estabelecem entre uma gloriosa instituição e um personagem que representa o que de pior o modelo económico português do antes da crise das dívidas soberanas concretizou.)

A pandemia parece estar a perturbar dois cidadãos com exercício de importantes funções políticas, ligados por uma relação de forte proximidade, a ponto de alguns analistas políticos considerarem o segundo como um sucessor possível do primeiro.

Costa e Medina têm toda a razão em não se inibirem de expressar as suas preferências clubísticas, desde que isso, como é óbvio, não perturbe a isenção das suas decisões no plano político nacional e local. Admito que possam frequentar a instituição e o seu estádio, porque um primeiro-ministro e o presidente da Câmara da Capital têm direito a uma vida normal, nos reduzidos períodos em que a sua vida política lhes permite alguma distensão.

Coisa bem diferente é integrarem a Comissão de Salamaleques à reeleição de uma personalidade que representa aquilo que não queremos que o futebol continue a ser. Luís Filipe Vieira é uma personalidade que ilustra bem a degenerescência a que chegou o nosso exaurido modelo de suporte nos não transacionáveis, artificialmente assistido por uma banca de fraca capacidade crítica em relação a grandes devedores. E não estou a retirar ilações de questões judiciais que não transitaram em julgado e cujas acusações ainda não conhecemos os contornos mais profundos. O candidato à reeleição no SLB, tal como Pinto da Costa no FCP, pertence aquela classe de dirigentes que sempre imaginou que as suas grandes instituições justificariam outra deferência por parte do poder, atendendo à sua influência sobre as chamadas massas, não as massas das  comissões e outras habilidades, mas as massas que votam nos clubes e enchiam em passado não muito remoto os estádios.

Ana Sá Lopes no Público comentava que a candidatura de Ana Gomes agradece e eu arriscaria mesmo que, intuindo sobretudo o estilo de comportamento e de decisão de António Costa, a decisão de integrar a tal comissão de FLV não foi por acaso que se seguiu ao anúncio da candidatura de Ana Gomes. Foi antes uma oportunidade de demonstrar à candidata que não se impressiona com o “amor profundo” que Ana Gomes dedica a almas penadas como LFV. Até porque a ideia peregrina de que a integração na Comissão de Honra seria justificada pelo poder eleitoral de uma massa associativa é demasiado simplista para um político da craveira de António Costa.

Bem pode António Costa, como o fez hoje, não comentar a sua decisão com a argumentação que a decisão foi tomada no plano estritamente pessoal e não enquanto primeiro-Ministro. Mas talvez o tiro lhe saia pela culatra, até porque tanto fumo que se repete nos envolvimentos de LFV que algum dia haverá mesmo fogo e aí o cidadão que também é primeiro-ministro terá muito que explicar. Nada disto tem que ver a expressão de “benfiquismo” ou, como poderia ser o caso de outras personalidades, o “portismo”. Como indefetível adepto do SLB ficaria bem mais satisfeito se António Costa e Fernando Medina se limitassem a não esconder a sua filiação clubista.

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