Para manifesta desventura de todos nós, Ventura está na moda e em toda a parte. O homem está nos outdoors dos candidatos autárquicos, algures entre o emplastro e a figura tutelar. O homem passa a vida em entrevistas e declarações televisivas, sobretudo porque a nossa comunicação social é claramente do género do “quanto mais me bates, mais eu gosto de ti”. O homem é campeão das redes sociais, onde diz o que lhe vem à cabeça (veja-se o recente caso de uma “Festa dos Cidadãos” confundida com um “festival de hambúrgueres”!) sem que praticamente ninguém o denuncie em conformidade como mereceria (glória limitada a Ricardo Araújo Pereira).
Bem diz a sabedoria popular que mais vale cair em graça do que ser engraçado, e Ventura parece ter sido abençoado pela maioria dos nossos compatriotas – razão para nos interrogarmos sobre se não haverá mesmo nada a fazer para combater tão perigosa praga que se apoderou do País e o vai deixando cada vez mais aturdido e desligado. Acresce que hoje é um dia especial para o dito cujo: por um lado, foram divulgadas as primeiras sondagens que o colocam na pole position das intenções de voto (e, portanto, como um reconhecido candidato a primeiro-ministro!), um dado tristemente histórico que aqui quero deixar registado; por outro lado, o Conselho Nacional do Chega irá esta noite pronunciar-se a favor da apresentação da sua candidatura a Belém, com as sondagens existentes a darem-no já em segundo lugar, empatado com Marques Mendes (!).
Fazer mais o quê? Recorrer a um voluntarismo néscio para sugerir que será talvez tempo de as pessoas acordarem, antes que seja tarde, ou encolher nervosamente os ombros à espera que os portugueses acabem por sair do sono hipnótico que os aliena e subjuga, sempre irritantemente depois de a sua situação ter batido no mais fundo dos fundos?

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