sábado, 20 de setembro de 2025

PRESIDENCIAIS (TAKE 2)

 

(André Ventura será sempre o elefante na sala em todas as situações em que intervenha e, como seria antecipável, assim aconteceu com a sua entrada em cena nas presidenciais estimadas para janeiro de 2026. Não se sabe se o Senhor Ventura levará para a campanha o seu refluxo, também dito de regurgitamento, gástrico, com o qual comoveu mais um conjunto de portugueses e as televisões existentes. A chegada de Ventura às presidenciais agitou as águas das candidaturas antissistema e o Almirante estará neste momento a rever os seus manuais de navegação, pois o mar em que vai navegar não só está mais encapelado, como está mais imprevisível e, quem sabe, obrigá-lo-á a moderar essa costela antissistema. Mas o mar está ainda mais agitado para os candidatos, pressupõe-se, apoiados pelos principais partidos do sistema democrático português. Marques Mendes e António José Seguro vão suar as estopinhas para tentar garantir pelo menos os seus eleitorados tradicionais, leia-se a votação média das últimas eleições no PSD e no PS. O que é francamente pouco para poderem aspirar a uma segunda volta, que lhes daria a possibilidade de se fazerem eco do apoio dos eleitores que continuam a acreditar no sistema democrático. À esquerda dos dois personagens, Mendes e Seguro, reina a divisão do costume, candidaturas para entreter de António Filipe e Catarina Martins e não se sabe ainda se o Livre avançará ou não com candidato próprio. A esquerda mais assertiva do PS continua à espera não se sabe de quem, de alguém seguramente sobre o qual poderiam exercer a sua majestática influência de Senadores da política. Sampaio da Nóvoa deve ter percebido que com “patrões” dessa envergadura não valia a pena ir a jogo, sobretudo porque já não havia tempo para um discurso direto com a população portuguesa. Esta gente que esteve tanto tempo no poder ainda não compreendeu a mudança de contexto em que estamos, por exemplo perante a macabra possibilidade de numa segunda volta termos de escolher ou não entre Ventura e o Almirante.)

Ventura continua a fazer o papel de faz-tudo de um circo de animais amestrados, mas inofensivos. O tempo ainda é curto para começarmos a assistir à chegada dos que lhe cheiram a poder e por isso o faz tudo tem mesmo de fazer tudo e ir a todas as frentes. A formação do governo-sombra do Chega vai trazer um cheirinho da chusma de gente que pode começar a disponibilizar-se para entrar no espetáculo. A indicação do Professor Horácio Costa, ilustre cirurgião dermo-estético, que montou no Hospital de Gaia um serviço de excelência, agora reformado e candidato à Câmara de Gaia pelo Chega, é um desses nomes do cortejo que irá seguramente formar-se à medida que cheire mais intensamente a poder.

Mendes e Seguro, por mais boa vontade e espírito de sacrifício que revelem, não têm estaleca para a batalha em que o sistema democrático vai estar mergulhado. Antecipa-se, por isso, uma eleição em que vou precisar como nunca daquele providencial filtro de emoções que nos induza a votar com a maior racionalidade possível e sobretudo com o critério de evitar danos maiores e uma segunda volta centrada em Ventura e no Almirante.

A partir de agora, os sapadores e fuzileiros do Almirante, estilo Isaltino Morais, irão ocupar o espaço de antena, zurzindo no candidato Ventura, polarizando ainda mais o ambiente e reduzindo substancialmente o tempo de notoriedade de Mendes e Seguro. “Pequeno ditador”, “mentiroso” e “cobarde”, expressadas por Isaltino, vão ser palavras meigas face ao que se desenha por aí. E a pergunta incómoda coloca-se: mesmo que Mendes e Seguro conseguissem segurar o voto das áreas do PSD e do PS, realidade sobre a qual tenho muitas dúvidas, será que isso dará para aspirar a uma segunda volta?

À esquerda destes dois candidatos reina o folclore, sinónimo neste caso de inépcia política. Nada contra as personalidades de António Filipe e de Catarina Martins. Tudo contra a miopia política avançada do PCP e do Bloco de Esquerda. Já nem com intervenção cirúrgica às cataratas será possível contrariar a falta de visão.

 

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