quinta-feira, 4 de setembro de 2025

VÁRIAS E DISPERSAS NUMA SEMANA DIFÍCIL DE REGRESSO AO TRABALHO

 


                                                                            


(O regresso ao trabalho é sempre complicado. Não porque seja suscetível a depressões pós-férias, acho que isso nunca me passou pela cabeça, mas porque o trabalho de consultadoria é cada vez mais difícil em matéria de elaboração de propostas. Retirando alguns privilegiados, como os grandes escritórios de advogados e algumas consultoras que se pagam mais pelo nome do que pela qualidade do trabalho que oferecem, em que as propostas de trabalho lhes chegam à porta sem grande esforço, a concorrência está dura e obriga a um grande investimento de elaboração de propostas para escrutínio da contratação pública. Assim aconteceu esta semana e por isso o cansaço de trabalho sobrepôs-se a qualquer tentativa de elaborar reflexão para o blogue e nem tempo tive ainda de ler o importante artigo que o meu colega do lado escreveu e bem para o Expresso, analisando as perspetivas de crescimento do Chega nas próximas eleições locais. Por isso, o que alimenta este post para retomar a prática da escrita são reflexões várias e dispersas ao sabor da espuma destes dias que fui registando no meu caderno mental para elaboração posterior)

Registo para já a cerimónia comovente de comemoração dos 80 anos da vitória aliada sobre os Nazis, através da qual a França de Macron procura encobrir para fora o grande lio em que está internamente envolvida, com o Governo de Bayrou num estado de nervos total, na corda bamba da agitação social e da pressão dos radicalismos do Rassemblement National de LePen e da França Insubmissa de Mélenchon e seus comparsas.

Podem dizer-me que a referida cerimónia é pura nostalgia do passado, mas para mim reunir no momento atual o Hino da Liberdade de Verdi (ópera Nabuco), Nana Mouskouri e a própria celebração ameaçada da Liberdade não é coisa pouca, antes pelo contrário tem um significado que só o contexto social e político atual permite compreender. Quando é que imaginaríamos que nos estaríamos a comover com os 90 anos límpidos e cristalinos da Nana Mouskouri e a força do Hino da Liberdade, com a imponência da Cidade de Paris como pano de fundo?

Verdi, o Hino e a própria Mouskouri são numa dada perspetiva passado nostálgico. Mas a Liberdade que os une não é passado, é presente ameaçado e talvez depois dos anos de ouro dos 50 e dos 60 não imaginássemos que a prezássemos tanto e com tão grande veemência. Não há como a França para construir estes momentos, mas há que convir que lhe sobra arte para resolver as suas próprias questões internas, elas próprias também ameaçadoras da Liberdade.

A outra reflexão prende-se com a Cimeira organizada pela China em prol de uma nova ordem económica e de política internacional que puxa para a Ásia a força da mudança, embora reunindo capitalismos de Estado e autocracias da pior espécie, por mais embelezadas que possam aparecer aos olhos dos cidadãos do Mundo. A culminar a Cimeira ou pelo menos em articulação de expressão comunicacional com a mesma, a grande parada militar organizada pela liderança chinesa atual é de tal maneira impressionante que Trump ficou de cara ao lado. Impressionado com a magnitude da cerimónia e certamente com a postura dos militares chineses, (“very impressive”, disse ele), Trump terá percebido o modo como o seu isolacionismo e bullying político associado está a fazer emergir uma espécie de outra coligação de organização do mundo. O homem está baralhado, pois é tudo muito amigo e das suas relações, mas a força expressiva daquela cerimónia impressiona (e amedronta) qualquer um, incluindo os seus apaniguados. Colateralmente, é impressionante ver como Putin passa, num ápice, de líder internacionalmente acossado para ser recebido em diferentes passadeiras vermelhas do Alasca a Pequim, com a Europa obviamente a ver navios. O mais recente artigo de Teresa de Sousa para o Público descreve, preto no branco e sem contemplações, a humilhação europeia evidenciada neste agosto último (Oh António Costa onde é que te foste meter?).

Finalmente, o karma português de pressentir com alarme as tendências securitárias mais incompreensíveis e, simultaneamente, ignorar em absoluto o que deveria ser uma cultura nacional inabalável de segurança manifestou-se tragicamente de novo, não agora nos incêndios rurais, mas antes num acontecimento manifestamente urbano, o desastre do elevador da Glória em Lisboa. A imagem internacional de segurança da Cidade fica claramente chamuscada com este grave e trágico incidente e seguramente que os fanáticos da xenofobia securitária não irão encontrar qualquer rasto de imigração no acontecimento. Espera-se uma rápida identificação das causas que terão precipitado a tragédia de um dos mais icónicos meios de transporte de Lisboa e que tantas vezes utilizei. Ontem, o responsável da Carris veio rapidamente comunicar que todos os protocolos de manutenção tinham sido respeitados. Assim sendo, aumenta a curiosidade sobre as causas explicativas do acidente.



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