A pedido de amigos com base local no distrito (uma nomenclatura administrativa já extinta mas que a política insiste em manter viva) de Castelo Branco (onze municípios, oito com atual liderança do PS, e cerca de 163 mil cidadãos inscritos), apliquei a metodologia do meu trabalho para o “Expresso” à realidade em causa, tendo-me ainda decidido pela introdução de alguns dados suplementares na análise (de ordem estatística (resultados de autárquicas anteriores às de 2021) ou de ordem factual e política (candidaturas em presença, partidos concorrentes, incumbentes recandidatos ou não, coligações negociadas ou não e respetivo âmbito, existência de movimentos de cidadãos, etc.).
A infografia acima traduz os resultados obtidos e compara-os com a situação vigente e com a que saiu das Legislativas de 18 de maio. Seguem algumas considerações específicas em relação aos vários concelhos:
· em Castelo Branco, onde a representatividade do Chega (8800 votos em maio) não vai ao ponto de conduzir o partido ao topo dos concorrentes (ademais se ocorrer um certo regresso a uma maior abstenção), a disputa será cerrada entre PS e PSD mas o efeito-incumbente, o voto útil à esquerda e a candidatura isolada da Iniciativa Liberal justificam que se tome por aceitável prognosticar uma vitória do PS;
· o mesmo tipo de raciocínio será extensível à Covilhã e ao Fundão, onde a maior representatividade do Chega ainda se mostra insuficiente para que o partido possa aspirar a uma vitória (ademais se ocorrer um certo regresso a uma maior abstenção), sendo que a manutenção do PS no poder no primeiro daqueles municípios parece altamente provável (apesar de algum efeito contrário potencialmente proveniente da candidatura independente próxima do PS), enquanto no segundo será de antever um desfecho completamente em cima da meta entre os dois maiores partidos democráticos (com o efeito-incumbente favorável ao PSD a não marcar presença, o que eventualmente poderá ser compensado pela tradicional cor laranja do município mas também contrariado por um movimento de independentes encabeçado por uma ex-vereadora do PSD) – situação indeterminada, pois, com PSD à frente e PS a apresentar tendência ascendente e fortes razões de esperança para o seu lado;
· nos municípios mais pequenos, dominam os casos de aumento recente da abstenção, com o risco-Chega significativamente presente em Idanha-a-Nova e Penamacor (onde o PS e o PSD, respetivamente, tendem a parecer favoritos mas poderão vir a ser inesperadamente derrotados por uma conjugação de fatores concorrendo desfavoravelmente, em especial uma mobilização de abstencionistas em favor do Chega em qualquer dos dois casos, uma candidatura independente liderada por um ex-vereador do PS em Penamacor e uma mudança obrigatória de candidato por limitação de mandatos em Idanha) e largamente ausente em Belmonte, Oleiros e Vila Velha de Ródão (onde a tradição muito provavelmente levará a uma continuidade do poder no PS, no PSD e no PS, respetivamente);
· em Proença-a-Nova, Sertã e Vila de Rei, o efeito das variações abstencionistas existe mas apenas bastante moderadamente, pelo que parecem mais provavelmente suscetíveis de prevalecer as tendências para derrotas dos incumbentes PS e presidentes em exercício (em favor do PSD) nos dois primeiros concelhos e para uma continuidade do PSD no último.
Avaliando mais em detalhe o chamado risco-Chega, diria que, no distrito de Castelo Branco, parece improvável que caia para o lado desse partido um êxito retumbante nas Autárquicas que se avizinham. Ainda assim, a votação alcançada pelo Chega nas Legislativas de maio ficou a escassa diferença do partido mais votado em cinco casos (Castelo Branco, Fundão, Idanha-a-Nova, Penamacor e Belmonte), que assim poderão corresponder à aspiração máxima do Chega no distrito num cenário de acrescida mobilização dos abstencionistas (entre 2 e 7%) e/ou de completa débacle por parte dos adversários (e do PS em particular) – o que configuraria o cenário extremo (de pesadelo) que encerra a infografia acima e que, não estando à cabeça dos mais viáveis, não pode considerar-se implausível.
Quero insistir na ideia de uma manifesta contingência associada a estes exercícios, os quais não pretendem ser de previsão mas simplesmente de raciocínio aritmético e lógico em torno da informação disponível e necessariamente desconsideram elementos determinantes associados a um conhecimento aprofundado dos locais e suas dinâmicas próprias, além de se limitarem à procura de encontrar um vencedor mais provável sem outras incursões em termos de partilha de poder ou de condições de governabilidade. Fica a informação, a confirmar ou infirmar aquando do levantamento da incógnita eleitoral depois de abertas as urnas no próximo dia 12 de outubro.
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