Prossigo a minha saga de exercícios político-aritméticos em torno do desfecho das próximas Autárquicas. Hoje com uma aplicação a duas das sub-regiões que, para o bem e para o mal, mais marcam os caminhos de Portugal, no caso a Grande Lisboa (recentemente transformada numa região NUT II, abarcando 9 municípios, mais de 1,7 milhões de eleitores – cerca de 19% do total nacional – e uma enorme concentração populacional que leva a que 8 concelhos se posicionem nos 20 maiores à escala do País, com Mafra a ser o 31º) e o Grande Porto (atualmente uma pequena parte da chamada Área Metropolitana do Porto, incluindo 6 dos seus 19 municípios e que são precisamente o concelho do Porto e os que o circundam em termos de fronteira geográfica e detendo cerca de 970 mil eleitores – mais de 10% do total nacional – e uma igualmente significativa concentração populacional que leva a que 5 concelhos se posicionem nos 20 maiores à escala do País, com Valongo a ser o 26º).
No tocante ao Grande Porto, a adaptação da metodologia que venho seguindo, e que já aqui genericamente descrevi noutro post, conduziu-me a resultados relativamente pacíficos do ponto de vista analítico: o cenário dito provável parece pouco suscetível de ser objeto de razoável questionamento e conduziria a uma vitória da AD em 4 dos 6 concelhos (mantendo a Maia, recuperando o Porto e conquistando Gondomar e Vila Nova de Gaia ao PS) e a uma manutenção no poder dos socialistas em Matosinhos e Valongo. Não obstante, os diferenciais em relação ao principal adversário (a AD em Matosinhos e o Chega em Valongo) não permitem excluir a hipótese de uma viragem nestes dois municípios. Os dados indicam ainda a maior probabilidade de nenhum executivo a eleger nestas autarquias ser dotado de uma maioria absoluta, o que conduz a casos em que o Chega poderá ter um papel marcante em matéria de governabilidade – o partido de extrema-direita parece em condições de eleger vereadores em todos os municípios, num total de 15 dos 66 lugares camarários em disputa.
Quanto à Grande Lisboa, a situação ressalta bem mais complexa. Com efeito, ao mesmo tempo que existem algumas certezas razoavelmente firmes em relação a quatro autarquias – Cascais e Mafra continuarão social-democratas, a Amadora continuará socialista e Oeiras continuará Isaltino Morais, pese embora só este independente apoiado pelo PSD possa considerar-se garantido e absoluto (com Cascais e Mafra a braços com a dificuldade de candidaturas independentes credíveis, que talvez acabem por não chegar para mais do que retirar a maioria ao PSD, e com a Amadora a manter o incumbente em dimensão tangencial) –, nos restantes cinco municípios a incerteza abunda e vai mesmo ao ponto de se tornar radical, i.e., de pôr a nu do modo mais categórico as limitações da metodologia que tenho vindo a trabalhar. Assim sendo, opta-se por apresentar na infografia abaixo o estado possível da “arte”, na verdade a indeterminação fundamental expressa em cinco concelhos a cinzento no terceiro gráfico e referenciando a possibilidade em presença de qualquer das três maiores forças partidárias poder vir a vencer nos casos em apreço (em Loures e Sintra com menor propensão relativa para a AD e para o Chega, respetivamente) e reproduzindo, ao lado, uma sua derivação que explicita o outputaritmeticamente mais claro e onde o efeito-incumbente desempenha um papel não desprezível (AD com IL em Lisboa e Sintra, PS em Loures, Odivelas e Vila Franca de Xira). De toda a maneira, nada pode ser excluído em praticamente todas as situações eleitorais da Grande Lisboa, pelo que apresento a concluir, e autonomamente, um cenário improvável (que apenas não mexe em Oeiras) mas que não deixa de ser admissível à luz dos números e de algum conhecimento mais focado nas dinâmicas locais que se lograram apreender à distância: PS coligado à esquerda a vencer em Lisboa e Sintra, PSD a vencer em Odivelas, Chega a vencer em Loures, Vila Franca de Xira e até em Cascais e Amadora, Grupo de Cidadãos a vencer em Mafra) – um cenário extremo, quiçá excessivamente chocante mas que talvez permita sobressaltar os defensores da democracia que persistem adormecidos perante os riscos que nos rodeiam...




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