O programa já tem anos e já teve diversas e multifacetadas variações e intérpretes desde os tempos longínquos da “Noite da Má Língua”. Na sua versão atual de “Eixo do Mal” e com os quatro protagonistas residentes e resistentes que se conhecem (Clara Ferreira Alves, Pedro Marques Lopes, Daniel Oliveira e Luís Pedro Nunes), o debate já teve melhores dias e tem vindo a decair em qualidade de modo insofismável. Curiosamente, no início era uma Clara inteligente que concedia a essencial razão de ser intelectual para a minha disponibilidade de os ouvir e não dar o tempo por perdido, com um Daniel ainda tenrinho mas já afirmativo e convencido, um Pedro ainda à procura de encontrar um lugar no comentariado à altura dos seus pergaminhos ideológico-sociais e um Luís Pedro ainda a treinar a sua incapacidade persistente para articular uma ideia com princípio, meio e fim. O tempo foi passando e quase tudo mudou, exceto a aparente imbecilidade de Luís Pedro (dizem-me que é mesmo só aparente e que o problema do rapaz não é o que parece): Clara ganhou em arrogância, enfado e pseudo-superioridade, numa atitude profundamente contrastante com a cronista da “Revista do Expresso” que continua a ser legível, interessante e por vezes brilhante (sigo aqui a opinião do meu colega de blogue), e tornou-se praticamente inaudível pela forma como diz e pelo que chega a dizer quando o disparate ou a irritação a invadem; Daniel adquiriu experiência, tem manifestamente trabalhado muito a sua inata intuição, prepara-se para saber daquilo que fala e passou a ser um comentador a ter em conta (mesmo quando se mantém agarrado a alguns dos seus clichés ou a algumas das suas contradições de ordem político-pessoal); Pedro também conheceu uma evolução digna de nota, abandonando os seus axiomas e as suas tentativas de ser quem não é para passar a aparecer libertado de amarras e capaz de raciocinar politicamente com bastante propriedade (o que não significado sempre com a devido rigor e a devida dose de justeza).
Vem tudo isto a propósito do programa da última Quinta-Feira e da sua parte final em que os quatro comentadores eram supostos analisar as eleições autárquicas que aí vêm. E digo que eram supostos porque na verdade não apenas houve dois que não o fizeram (Clara e Luís Pedro) como ainda se entretiveram com declarações confrangedoras sobre os processos de escolha a nível local que confessadamente me enfureceram. Luís Pedro não aprecia as eleições autárquicas porque são 308, logo muitas e demais, e porque as câmaras municipais são grandes centros de emprego por esse País fora, afirma que no Porto está sempre tudo empatado, jura que o candidato do PSD no Porto e a do PS em Lisboa rezam para não ganhar, acha que Sintra merece Rita Matias, além de tudo o mais que lhe passou pela cabeça e não teve espaço para dizer pela boca fora (felizmente!). Quanto a Clara, eis como arrancou: “Eu não me interesso nada por Autárquicas. O poder autárquico desiludiu-me muito ao longo dos anos, destruição de paisagem... Houve excelentes autarcas mas houve corrupção e houve autocracias, mandatos que se prolongaram indefinidamente, feudos, etc. Portanto, houve muita coisa errada no poder autárquico.” E desse justificativo insuscetível de qualificação passou a explicar que apenas se interessa pelo que acontece em Lisboa (“sou muito egoísta”) – onde o seu veredito foi no sentido de que Alexandra Leitão é um erro de casting (simpática mas não para este cargo), Carlos Moedas possui uma voz irritante, a civilidade do candidato do Chega lhe deixou a esperança de haver alguém dentro do Chega que não passe o tempo aos gritos e, retumbantemente, o de que o “príncipe” no debate televisivo foi João Ferreira, “magnífico, consistente, sábio”, uma espécie recauchutada (digo eu) da face humana de um Partido Comunista que nunca a enganou e, portanto, alguém que, não obstante, não quer que seja Presidente da Câmara, ponto final parágrafo. Ah, e a terminar ainda conseguiu classificar o seu colega de debate Daniel, de quem julgávamos ser amiga, de “um ser absurdo”...

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