Decidi sacrificar algum do meu cada vez mais precioso tempo a ver e ouvir atentamente a entrevista de André Ventura (mais uma com que a nossa tão estimada comunicação social nos inunda num misto de preguiça e fascínio!) ao “Now” e a Pedro Mourinho. Mesmo não sendo um especialista na maioria das matérias – particularmente no que toca à análise mais ou menos cirúrgica das posturas adotadas, das reações faciais e corporais e da linguagem e tiques linguísticos utilizados, onde abundam verdadeiros campeões avulsos da “inventividade”, da “detalhística” e do “achismo” –, tenho de reconhecer que não seria justo que aqui declarasse que dei o meu tempo por integralmente perdido. Com efeito, pude comprovar o que a minha intuição já dava por certo: que Ventura não passa de um oportunista espertalhão que percebeu como é fácil enganar o “pagode” com mentiras e acusações tonitruantes ao “sistema” conjugadas com declarações de assumida pureza e virgindade em nome de uma portugalidade balofa que faz assentar em combates primários à imigração e à corrupção em nome da recusa absoluta do dito “sistema”. Na essência, Ventura é indigente no conteúdo, na ausência de propositura, na forma de dizer (entre as respostas numeradas em um, dois, três e os permanentes pedidos infantis ao interlocutor no sentido de um “deixe-me só dizer isto”) e na forma de estar (veja-se o seu fácies vencedor e orgulhoso, pleno de autodeslumbramento, quando acaba de declarar algo que se convence de ter sido bem-dito, insuscetível de contradição e irrepetível por qualquer outro ser que por aí ande). Na verdade, o pior que a democracia portuguesa gerou está naquilo que Ventura proclama e quer mesmo ser sem para tal possuir um mínimo dos atributos éticos, democráticos, relacionais e de competência requeridos...
sexta-feira, 19 de setembro de 2025
INDIGÊNCIA E DESLUMBRAMENTO
(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)

Sem comentários:
Enviar um comentário