(Os astros parecem apostados em levar-nos os grandes vultos da beleza, multifacetada e com a qual cultivámos os nossos olhos e sentidos. No espaço de poucos dias, Giorgio Armani e esta semana Claudia Cardinale deixaram-nos e com ele uma parte sensível do nosso imaginário italiano foi-se na erosão inexorável do tempo. Ana Magnani, Giulietta Massina, agora Claudia Cardinale e a ainda viva Sofia Loren encheram os ecrãs e os anos de ouro do cinema italiano com uma presença imponente e inesquecível, linha que no presente só talvez Monica Bellucci consegue manter viva. Noutros universos, estão ainda vivas outras divas, Deneuve, Binoche, Blanchett, Streep, Winslet sem as quais o cinema seria uma outra coisa, sem a pujança e sedução que aqueles rostos e aquelas presenças totais representam. Mas o universo italiano das atrizes intemporais é uma outra coisa, faz parte do nosso imaginário italiano e da beleza e sensibilidade que a ele associamos. O que espanta na filmografia de Cardinale é a sua longevidade e diversidade e sobretudo a cumplicidade com cineastas como De Sica, Visconti, Sergio Leone ou Manuel de Oliveira do Gebo e a Sombra de 2012. Presença, cumplicidade e sedução que praticamente nunca passaram pela venda e exposição gratuita da nudez, anunciando um tempo que se perdeu e não é o de hoje. Ou como o dizia o crítico João Lopes do tempo em que as divas eram acessíveis e cultivavam a simplicidade.)

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