(Emilio Giannelli, http://www.corriere.it)
Sob a égide de Xi Jinping, que encontrou na atual situação geopolítica mundial as condições permissivas de uma iniciativa chinesa, a Cimeira de Xangai terá sido um momento marcante de afirmação da ordem internacional alternativa de que há muito se vai ouvindo falar e que corresponde a uma expressão essencial do poderio económico, tecnológico e militar paulatinamente alcançado pelo país ao longo das últimas décadas.
Dito isto, importa acrescentar que de entre aquelas condições objetivamente favoráveis encontraram larga parte da sua operacionalidade no surgimento de Donald Trump e da sua estratégia nacionalista e de gradual transformação dos EUA numa autocracia crescentemente alheia aos valores democráticos fundamentais, bem assim como na relativa falta de comparência europeia no tocante a um lidar efetivo e consequente (leia-se focado, competente, corajoso, solidário e unitário) com os dossiês que potencialmente mais transportariam a garantiriam o fortalecimento de fatores de esperança num provir de paz e prosperidade.
O quadro que se nos apresenta para as bandas do Ocidente não é, de facto, brilhante, antes pelo contrário. O lado norte-americano é dominado pelo narcisismo doentio e ignorante de Trump, amplamente facilitado pela pragmática e servilista covardia de todos aqueles que atualmente estão ao comando dos destinos europeus (Merz ainda nos vai deixando alguma expectativa de poder vir a ser exceção...). Embora não se deva pensar que não existe um caminho bem estudado, visto como simultâneo de destruição e renovação, por parte dos conselheiros e influenciadores mais capacitados do presidente dos EUA (que é deles frequentemente, apenas, um instrumento a jeito e preceito, embora às vezes suscitando avanços e recuos em função da sua impulsividade e caprichos, não sendo até de excluir que Marcelo pudesse estar certo quando falou de “um ativo russo”).
Quanto ao lado europeu, diria que a situação atinge o seu exponente máximo de perigosidade, começando a ser notória a completa incapacidade dos que estão diariamente in charge (Ursula e Costa, nomeadamente) e a absoluta necessidade de se repensar a respetiva arquitetura institucional (Draghi, na sua fria racionalidade, já o veio afirmar sem grandes hesitações), tendendo a manifestar-se incontornável o reconhecimento que cresce no sentido de que nada emergirá, em termos de tentativa de salvação da exemplaridade do modelo de sociedade que se enraizou no Continente, sem que algum tipo de federalização seja equacionado com frontalidade e seriedade – o problema, que é tudo menos facilmente ultrapassável, está em que tal obrigará ao recurso a ações firmes e corajosas contra os falcões e traidores internos (Hungria e Eslováquia à cabeça), o que não parece compatível sem roturas maiores face à ascensão do radicalismo de extrema-direita que se observa um pouco por toda a parte e num contexto em que os grandes e decisivos países (Alemanha, França, Itália, Polónia, Espanha, Países Baixos) se mostram a braços com impotências e indeterminações de múltipla natureza, mas invariavelmente gigantescas. Assuntos merecedores de revisitações.





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