Acabei de ler o excelente relatório da OCDE “Education at a glance – 2025”, já um clássico na matéria. Dele quero reproduzir hoje um detalhe que reputo de eloquente quanto ao estado da espessura intelectual que grassa na população adulta portuguesa e assim se torna elucidativa das razões que levam uma parte significativa dos nossos cidadãos a embarcar em discursos populistas desinseridos da verdadeira realidade que os envolve e tendentes a procurar culpabilizações imediatistas, irracionais e imprudentes perante o estado a que “Isto” chegou. Veja-se acima que, numa amostra de 28 países, Portugal surge colocado num desonroso penúltimo lugar no tocante a um domínio designado por “proficiência em literacia entre adultos”; mais em concreto, 46% dos nossos concidadãos caem nos dois níveis mais baixos de literacia (ou, na realidade, numa zona de manifesta iliteracia), contra 28% para a média da OCDE e, por exemplo, 21% para a Estónia, 23% para a Eslováquia, 26% para a Chéquia, 29% para a Croácia, 33% para a Espanha e a Hungria, 35% para a Letónia, 39% para a Lituânia ou 41% para a Polónia, para apenas salientar as nações cuja comparabilidade é necessariamente maior. Se a este dado adicionarmos o que decorre de uma consideração alternativa dos três níveis mais baixos, em que Portugal vê posicionados 79% dos seus cidadãos em idade ativa (contra 59% em termos de média da OCDE), não pode deixar de nos ficar um amargo de boca quanto à impreparação e ignorância que reina na sociedade de que somos parte e, repito-o, quanto ao modo primário como esta age e funciona, com a classe política a ser uma mera e compatível expressão do caráter incipiente, desligado e tosco das dominantes reações individuais e coletivas que fazem a nossa vivência quotidiana.

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