quarta-feira, 24 de setembro de 2025

O VERNIZ DE FERNANDO ALEXANDRE

 


(Estou à vontade porque em diferentes oportunidades neste blogue destaquei o lugar diferenciado que o Ministro da Educação Fernando Alexandre ocupa no governo de Luís Montenegro, especialmente pela sua vontade reformista e por não estar manietado pelo pensamento dos Senadores da Educação em Portugal, que são em meu entender a antítese da mudança e a mais pura manifestação dos interesses estabelecidos com a Universidade à cabeça. Mas o ministro não tem tido vida fácil, não só porque trabalha com uma máquina infernal, que tem destruído muitas personalidades políticas, mas também porque a diversidade das reformas a empreender é tal que mais tarde ou mais cedo causa dano em termos da resistência física de quem está ao leme. Nos tempos mais recentes, o impulso reformista de Fernando Alexandre tem sido atraiçoado por desempenhos que não estão em linha com o seu discurso, por exemplo a percentagem de Escolas em que existem alunos sem pelo menos um professor, que contrariam o seu otimismo na abertura das aulas, e por deslizes de pensamento que ficam mal num democrata reformista. Foi o caso da sua reação demasiado a quente no caso que envolveu a Faculdade de Medicina do Porto e a Reitoria da Universidade do Porto, no qual com um pouco de calma compreenderia rapidamente que a Direção da Faculdade de Medicina do Porto meteu a pata na poça, veremos o que dá a averiguação sobre a denúncia de que terá existido viciação de atas. Foi também a sua esdrúxula posição perante alunos do ensino secundário de que os professores perdem a sua aura por participarem em manifestações. Diria que o verniz estalou, espero que não em magnitude suficiente para estragar toda a pintura e fica mal a um ministro reformista condenar os professores ao silêncio da não participação cívica.)

O infeliz comentário sobre a perda da aura dos professores pelo simples facto de se manifestarem publicamente é objeto de uma crónica contundente de Daniel Oliveira no Expresso online, pelo que me dispenso de elaborar sobre o assunto. A condenação dos professores ao silêncio cívico tem profundas repercussões no tipo de Escola que eles poderão ajudar a construir e a mensagem é sobretudo grave pelo facto de ter sido expressa perante alunos, cuja capacidade crítica e reflexiva tem de ser estimulada, sob pena de serem presa fácil de toda a alienação que circula por aí, internacional e nacionalmente falando.

Já que falamos da aura dos professores, fica também em causa a aura reformista do ministro, sendo por isso necessário monitorizar com mais atenção a sua prestação. Reformismo e encolhimento cívico é coisa que não casa bem.

 

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