sexta-feira, 5 de setembro de 2025

INCENDEÁRIO E CHEGUISTA ENCARTADO, DOIS EM UM?

Uma notícia surpreendente para André Ventura: o mandatário da candidatura do seu partido à Câmara de Vendas Novas, que por sinal já foi líder da respetiva concelhia e também candidato ao Município em eleições anteriores, foi detido em flagrante por suspeita de atear fogos. Dizer o quê quando a realidade fala por si? Assobiar para o lado e prosseguir na odiosa senda da denúncia “venturosa” de tudo e todos, do “regime”, que afinal só se aplica a alguns? Continuar a entender, entre a escolha fácil de uma postura romântica e a paralela evidência de um oportunismo conveniente, que a democracia é um puro espaço de expressão igualitária, incluindo discursos e propostas que a combatem e inibem de facto?

 

Interrogo-me sobre o modo como a notícia será recebida em Vendas Novas, um dos concelhos que estimei como mais propensos a uma vitória autárquica do Chega em exercício que recentemente publiquei no “Expresso”. Será o partido populista castigado pelos atos e omissões dos seus apaniguados, com o povo a ser agente ativo de uma lição democrática, ou ninguém quererá verdadeiramente saber por se tratar de um mero pecado pontual de alguém que cabe na velha categoria dos que “roubam mas fazem”?

 

Circunscrevo-me ao PSD e às próximas autárquicas para não explorar as recorrentes contradições de Montenegro e do Governo em matéria de “não é não”, ou seja, do respetivo relacionamento com a extrema-direita, repentinamente tornada mais responsável na palavra do primeiro-ministro (será a responsabilidade função do peso parlamentar?) e assim aceite como centro de um diálogo que antes se considerara impossível.

 

Temos, por um lado, a candidata à Assembleia Municipal de Lisboa nas listas de Moedas, Margarida Mano, a repetir as gastas teses da inexistência de “geometrias inadequadas ou inapropriadas” em nome de uma tentativa de branqueamento da falta de princípios valores compatíveis com uma sociedade livre mas não escancaradamente aberta aos seus inimigos. E temos, por outro lado, o candidato ao Porto (Pedro Duarte, PD), mais inteligente, a emendar a mão após o tiro no pé com que iniciou o mês de agosto e que ainda aprimorou em entrevista ao “Observador”: hoje, tudo visto e ponderado, PD afirma que nunca aceitará acordo de governação com o Chega e até acrescenta três motivos justos para tal, sustentando a terminar que “se há coisa que o Chega não é, é confiável” – e Montenegro que descalce a bota, uma bota que às tantas nem tem necessidade de descalçar dado o modo como parece pretender ficar na nossa pequena história de um chefe de governo que tudo subsume à manutenção a qualquer custo do poder pelo poder.

 

Neste quadro, José Luís Carneiro – que vive um exercício invulgarmente árduo e complexo na liderança de um PS em declínio, desorientado e fortemente dividido – merece um aceno de simpatia pelo compromisso em torno de um pacto anti-Chega que exige aos autarcas candidatos do seu partido. Haja mínimos, mesmo que não seja seguro o seu unânime cumprimento...




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