(O conceito de destruição criadora cunhado por Joseph Schumpeter representou um grande impulso para compreender o modo como a inovação, aplicação económica de invenções ou novas ideias, se processa no capitalismo e como ascende a fator dinâmico desse mesmo capitalismo e do crescimento económico intensivo. A destruição criadora representa simbolicamente a metáfora da luta entre o novo e o velho. As novas tecnologias pretendem afirmar-se substituindo as velhas e por isso é que a destruição do velho se designa de criadora. Se virmos a questão em termos de emprego, isso significa que a inovação é regra geral precedida de destruição de emprego, associado às tecnologias que o mercado sanciona de obsoletas, mas na transição de longo prazo a criação de emprego impulsionada pelas novas tecnologias tende a mais do que compensar o emprego destruído. A luta entre o novo e o velho pode ser mais complexa do que o enunciado anterior sugere. Por vezes, a ameaça da nova tecnologia conduz a desenvolvimentos interessantes da velha tecnologia, podendo mesmo coexistir no mercado a aplicação económica das novas ideias e a reorientação das velhas tecnologias. O conceito de destruição criadora pode, em certos casos, confundir-se com preocupações de liquidacionismo de velhas estruturas, o que significa algum determinismo e a presunção de que a destruição do velho, com as consequências de destruição de emprego que lhe são conhecidas. O determinismo é inequívoco quando se ignora que a destruição criadora está baseada na valia económica das novas soluções que tem de ser demonstrada em mercado e isso não é rápido nem espontâneo, exige tempo, não podendo ignorar-se o efeito de adaptação resiliente das consideradas velhas tecnologias. )
A raiz schumpeteriana do conceito mostra que até ao seu aparecimento a teoria económica não tinha uma explicação consistente da dinâmica da inovação. Os modelos de equilíbrio geral estavam então limitados à existência de rendas marginais para explicar a dinâmica de inovação. Mas a inovação acontece num mundo diferente, o dos rendimentos crescentes, no qual a dinâmica criadora é alimentada pelo desejo de conseguir uma posição monopolista pelo menos num tempo suficiente para justificar os investimentos necessários ao escalamento dos negócios inovadores.
A atribuição do Nobel há uns anos a Paul Romer justifica-se pelo facto de ter sido ele quem formalizou pela primeira vez a ideia de inovação com rendimentos crescentes, baseado no princípio de que as ideias são simultaneamente bens não rivais e bens excludentes através de proteções adequadas, as patentes.
Podemos considerar a atribuição esta segunda-feira do Nobel de Economia a Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt como um segundo passo nesse reconhecimento, já que se deve a estes autores, sobretudo a Aghion e a Howitt, a formalização do modelo de destruição criadora como elemento fundamental na formalização do crescimento económico induzido pela inovação. Sabemos que o crescimento económico pode ter uma natureza meramente extensiva, mais pessoas, mais capital humano, mais capital físico, mais recursos naturais. Mas o crescimento económico de natureza intensiva, isto é determinado e puxado pela inovação exige uma formalização diferente. Foi isso na prática que os agora três NOBEL fizeram, dando ao chamado crescimento endógeno uma formalização ainda mais vasta e compreensiva do que Romer alcançara.
Considerando que a obra síntese, cuja capa abre este post, data de 1997, compreende-se quão longo é o tempo de maturação do reconhecimento que o NOBEL concede a trabalho de rotura em termos de teoria económica. Claro que o esforço de formalização alcançado pelos três economistas, repito sobretudo Aghion e Howitt, é crucial para compreender o reconhecimento entre pares e a sua disseminação na comunidade académica. Mas mesmo sem formalização matemática, será sempre ao velho Schumpeter que recorreremos para compreender a revolução que o conceito de destruição criadora representou. Neste caso, o velho não se evaporou. Foi simplesmente formalizado com elegância e rigor matemático.

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