Mais uma incursão nos resultados eleitorais das Autárquicas, desta vez focando-me nos 60 concelhos em que o Chega vencera nas Legislativas. Os dados observados permitem uma definição de seis tipos de concelhos a partir do peso da votação autárquica no Chega em relação à respetiva média para os 60 concelhos (linha vertical a tracejado), por um lado, e do comportamento da votação no Chega entre as duas eleições em relação à respetiva média para os 60 concelhos (linha horizontal a tracejado), por outro.
No primeiro quadrante, um conjunto de 11 municípios em que o risco Chega persiste bastante elevado, independentemente de não ter saído vencedor na maioria deles (Albufeira e Entroncamento, onde a extrema-direita ganhou são os dois pontos mais afastados do gráfico) – ainda assim, em quatro dos nove municípios em que o Chega não venceu, a diferença do partido em relação ao vencedor ficou na estrita casa das centenas (147 e 183 em Sesimbra e Palmela face à CDU, 485 em Vila Nova da Barquinha face ao PS, 631 no Montijo face a uma candidatura independente), por oposição aos restantes cinco em que o diferencial foi de ordem substancial (Moita, Olhão, Vila Franca de Xira, Seixal e Sintra); no segundo quadrante, dois casos (Marinha Grande e Setúbal) em que os valores Chega permanecem altos, embora ligeiramente inferiores àquelas médias; no quarto quadrante, as 6 situações em que a quebra de votação no Chega não foi de molde a pôr em causa a expressão do seu peso relativo (Portimão e Benavente, Almeirim e Lagos, Elvas e Lagoa); no terceiro quadrante, três subconjuntos distintos, a saber: 22 concelhos em que a quebra de votação no Chega apenas teve um impacto moderado na sua representatividade; 5 concelhos em que a quebra foi significativa a ponto de trazer o peso do partido para valores inferiores a 10%; 15 concelhos em que a quebra supera os 15% e conduz, em alguns casos, a pesos muito diminutos da extrema-direita na respetiva autarquia (designadamente, Campo Maior, Aljezur, Barrancos, Almodôvar e Mourão, todos abaixo dos 5%).
Vale tudo isto por dizer que, sem prejuízo de tudo quanto se possa afirmar quanto à especificidade própria das eleições locais e respetivas determinantes, a resultante das duas últimas consultas cidadãs vai claramente no sentido de não confirmar a expressão avassaladora que parecia associada ao Chega das Legislativas mas também de não validar a ideia de que a extrema-direita terá perdido muita da sua importância no rescaldo autárquico – nem tanto ao mar nem tanto à terra, pois, quando em 17 daqueles 60 concelhos o seu endorso ultrapassa os 20% e quando em 19 daqueles concelhos o seu endorso cai de forma brutal para valores abaixo dos 10%. À atenção dos portugueses atentos e ponderados...


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