quarta-feira, 22 de outubro de 2025

AS PRESIDENCIAIS MAIS INSOSSAS DE TODOS OS TEMPOS

Palavra de honra que não sei que vos diga sobre as Presidenciais que se aproximam, com data marcada para janeiro de 2026. Nem quanto à qualidade relativa dos candidatos – já que sobre a absoluta estamos mais do que conversados –, nem quanto à estratégia de cada um – que presumo invariavelmente perdida por falta de comparência –, nem quanto ao que vai sair daqui – certamente algures entre o imprevisível e o potencialmente trágico.

 

Gouveia e Melo, que era o homem da farda e o candidato perigosamente desconhecido, é cada vez mais explícito nas suas reservas em relação ao Governo, na sua inserção no sistema e nas referências de que se reclama. Marques Mendes, o eleito de Montenegro, cumpre a sua obrigação de secundar o Governo e de tolerar as incursões da cavacal figura ao mesmo tempo que tenta mostrar-se um independente dos sete costados, com Rui Moreira e Eduardo Barroso a chancelarem tão canhestra tática. Seguro, embora contando com a “onda de adesão de tal ordem” que Assis vê criada à sua volta, obtém um apoio do PS arrancado a ferros (criativa a leitura de João Miguel Tavares de que o apoio não implica que os militantes não estejam à vontade para não votar nele...) mas insiste-se “suprapartidário” e até já entra no pouco recomendável círculo do chamado “passismo”. Cotrim, vaidoso como poucos, lança-se em busca do voto jovem que a IL tem vindo a alcançar e afirma-se no rol dos capazes de chegar à segunda volta, com ou sem o “claramente” possível apoio de Passos. Ventura acaba por ser de todos o mais consequente devido à sua própria inconsequência, pessoalmente autocentrada e dirigida a agitar em permanência as águas antisistémicas na expectativa de que a providência divina o conduza a um qualquer dos postos que ambiciona ocupar no sistema que denuncia.

 

Depois, e muito lateralmente, há a restante esquerda. Uma gente que já teve a sua oportunidade de contar no País, designadamente ao tempo da malograda “geringonça” que tão notoriamente ajudaram a delapidar, e que insiste em não dar sinais de compreender que só uma radical mudança de rumo a pode salvar. Alguns especialistas explicam-nos que tem de ser assim para “fixar eleitorado” (qual, quando o mesmo se reduz a olhos vistos e sem remissão à vista?), pelo que lá vão estar presentes nas nossas vidas a amabilidade desenxabida do António Filipe, a voz grossa da Catarina contra o Chega e alguém que o Livre vá indicar com vista a não permitir que os outros dois brilhem sozinhos. Será provavelmente defeito meu mas não encontro neste caminho de perdição um qualquer vislumbre de esperança.

As Presidenciais de janeiro serão, assim, as mais desinteressantes da nossa democracia, talvez com o contrabalanço de algum frisson associado à dúvida latente que subsistirá em relação à identificação do próximo ocupante do Palácio de Belém. Com efeito, nem a monotonia da disputa entre Mário Soares e Basílio Horta em 1991 ou dos processos que inquestionavelmente elegeram por duas vezes o vencedor antes de o ser (Marcelo) acabarão por deixar de ser recuperados para a posteridade como momentos plenos de motivos bem mais cativantes a reter do que aqueles que nos esperam nos antecipáveis meses de conteúdo chatíssimo e até desconcertante que temos por diante.

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